3.10.2009

A Mulher Sem Cabeça

Lucretia Martel deixou-nos perplexos com o seu primeiro filme. Falámos nele num outro contexto, mas o “Pântano” parece encerrar em si uma das nossas grandes motivações, a dicotomia Homem-Natureza. Numa casa de campo, as férias de uma família argentina reflectem a banalidade do quotidiano, longos dias passados entre o interior de uma casa e o exterior que se prolonga para longe. Pelo meio, pequenos acidentes, desvios, explosões, sempre em sintonia com uma natureza instável. Outros assuntos também, mas no fundo, a condição humana como extensão da paisagem que a rodeia.

Relativamente ao seu último filme “La Mujer Sin Cabeza”, em Maio de 2008, de passagem pela última edição do festival de cinema de Cannes, Vasco Câmara (Jornal Público) escrevia:
“Queremos estar na cabeça desta personagem? Não há outro remédio, a cabeça é o filme.
O que é que este filme, La Mujer sin Cabeza, conta? Não conta, o filme com título de conto surrealista é... a cabeça de uma mulher que, por instantes, perde a cabeça. Ia ao volante do carro (estrada do interior da Argentina), distraiu-se e bateu em alguma coisa (sentimos também o impacto, e vemos - ela não - as marcas de mãos que ficaram no automóvel). Nos dias que se seguem, Vero, é o nome dela, parece um zombie. (Sabemos como é: é como o espectador de um filme de que não entende nada.) Não reconhece os sinais da realidade, ou eles é que se desprenderam dela e a largaram, para ela então flutuar. Quem são aqueles, que nem reparam que ela perdeu a cabeça? São marido, filhos, é uma família? De que tempo vêm os laços, incestuosos, de que tempo vem aquela arquitectura e mobiliário? As figuras à volta de Vero estão do lado de lá de um vidro batido pela água da chuva. Nunca se aguentam sem desfocarem.”

Nas palavras da cineasta: "Interessa-me a desnaturalização da natureza humana. Transpor os limites entre o vegetal, o animal e o humano parece-me fascinante".

Integrado no ciclo “Fervor de “Buenos Aires”, o CCB recebe a realizadora na exibição do seu último filme, bem como a exibição dos anteriores.
O Pântano . 10 Março 2009 . 21:00h
A Rapariga Santa . 11 Março 2009. 21:00h
Rei Morto + A Mulher Sem Cabeça . 12 Março 2009. 21:00h, com a presença da realizadora.

3.01.2009

Trabalho de Campo

"Antes de eleger a fotografia como medium do seu trabalho artístico, Jochen Lempert (Moers, Alemanha, 1958) dedicou-se intensamente, entre 1979 e 1989, à realização de filmes experimentais no âmbito do colectivo Schmelzdahin. Paralelamente, entre 1980 e 1988, fez os seus estudos universitários em Biologia. De ambas as actividades ficariam traços indeléveis no seu trabalho fotográfico. Este distingue-se, desde logo, pela escolha do assunto: a vida animal, que o artista investiga com um olhar informado e uma curiosidade insaciável, nas suas diferentes formas e nos mais diversos contextos (do habitat natural ao museu de história natural, do jardim zoológico ao meio urbano), mas também nas suas manifestações e representações na vida quotidiana e na cultura material. A este interesse pela vida animal como assunto alia-se uma exploração das propriedades e da materialidade da imagem fotográfica. Jochen Lempert fotografa com uma câmara de 35 mm e a preto e branco, escolhe deliberadamente papéis que não se conformam aos padrões profissionais e tira partido, de forma prodigiosa, do processo de revelação. O seu trabalho define uma posição artística solitária, discretamente construída sem qualquer concessão às tendências e aos cânones dominantes na fotografia contemporânea." in Culturgest.

"Jochen Lempert (Germany), 1958. Lives and works in Hamburg. Lempert initially trained as a biologist at the Friedrich-Wilhelms University in Bonn during the 1980s, while simultaneously studying experimental film-making with the Schmelzdahin Film Group. His photographs combine artistic creation, scientific research and documentation, and take the animal world in its many forms as their subject. Using a cultural approach, he employs his analytical gaze to re-write natural phenomena. His artistic production, which varies between extreme close-ups and long-distance views, encompasses single images framed in a uniform way, which are combined to form a series. Reflec-ting the human need for interpretation, and playing with our constant search for signs and symbols, meaning is often generated through the process of association between the individual images." in Exit#22.

Numa exposição comissariada por Miguel Wandschneider, fotografias de Jochen Lempert para ver até ao próximo dia 10 de Maio na Culturgest.

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