4.25.2010

Ruínas

Ruínas, o último filme de Manuel Mozos é, contrariamente ao que o título possa sugerir, um enorme voto de confiança no futuro do cinema. O filme surge esteticamente na linhagem de outros filmes sobre a morte – parece mesmo que a necrofilia é o tema do cinema português – mas ganha aqui contornos mais interessantes, ou pelo menos mais românticos, de uma verdadeira necrofilia melancólica. Mas, além do tratamento visual ser uma viragem significativa, significante é também o facto de Mozos dirigir toda a nossa atenção para 'falsas' naturezas-mortas: os locais em ruínas.

Construído unicamente com imagens dos locais abandonados (edifícios, hotéis, pedreiras, fábricas, sanatórios, teatros, estações de comboios) consegue, ainda assim, criar uma narrativa de um Portugal no pretérito e de hábitos irremediavelmente antiquados. Mas, este abandono não tem aqui indícios de saudade por um passado que não retornará mas antes dá a compreender a simples e esmagadora passagem das coisas. Através dos diversos esqueletos ou dos diferentes estados de danificação compreendemos que a sua impossível recuperação física se deve, acima de tudo, à impotência em controlarmos a direcção do tempo. A transitoriedade nos espaços vividos é exposta em conjunto com uma voz off que dá conta de um tempo que foi, de vivências que preenchem o vazio dos lugares.

Sem procurar razões para o abandono ou deslocação das vivências e dos interesses mas alicerçado unicamente no sem-sentido que aqueles lugares agora têm enquanto vestígios de locais habitados, Mozos põe em marcha o grande poder do cinema – dar vida ao que já morreu. O filme começa no cemitério do Prado do Repouso, no Porto, e parece que dele não chegamos a sair.


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4.18.2010

Trabalho/Descanso

Foi apresentado ao público, no passado dia 13 de Abril, o projecto "Run For Rest" na inauguração do Public Design Festival, um festival de espaço público a decorrer em Milão em simultâneo com a Feira de Design de Milão, aquela que é considerada a melhor feira de Design do mundo.
O projecto da autoria de Joana Pestana Lages (Isumavut arquitecturas) e Maria João Fonseca (Bound Arquitectos Paisagistas) foi um dos 9 vencedores do concurso Duepercinque, num panorama de 650 equipas participantes, representando 46 países.
Nas palavras das autoras "o projecto é inspirado nas voltas intermináveis de uma roda de hamster, que corre cada vez mais rápido para chegar a lado nenhum, este objecto é uma SÁTIRA à nossa passagem pela vida moderna. Baseado no binómio TRABALHO/DESCANSO é um reflexo da nossa condição humana; correr para o trabalho, trabalhar para descansar ou finalmente trabalhar uma vida tendo em vista o eterno descanso. Também o podemos ver como uma critica; trabalhar enquanto outros descansam. Esta obra pode ser usada por uma pessoa mas a sua utilização é optimizada quando usada por duas, um paralelo à nossa vida em sociedade.
Acima de tudo este é um objecto lúdico de arte pública, que reflecte uma abordagem que privilegia a interacção com o público e novas possibilidades de exercício e fontes de energia. Acreditamos que a arte pública deverá ocupar espaços vivos, ruas e jardins e permitir a todos a sua máxima sua fruição."

Depois de exposto de 13 a 18 de Abril em Milão, nº 29 da na Via Vegevano, já no regresso a Portugal a peça irá ser exposta na LXFactory em Alcântara, durante o 4º Openday no dia 14 de Maio.

+ a proposta a concurso

fotografias cedidas por Maria João Fonseca.

4.11.2010

Cinema e Paisagem

Começou na passada sexta-feira, dia 9 de Abril, a 4ª edição do Panorama, Mostra de Cinema Documental Português. Muito para ver mas sobretudo a projecção de quatro filmes da obra de António Reis e Margarida Cordeiro.
A saber:
. Jaime, 1974 . 9 de Abril . 21.30h
. Trás-os-Montes, 1976 . 11 de Abril . 21.30h
. Ana, 1982 . 15 de Abril . 21.30h
. Rosa de Areia, 1989 . 18 de Abril . 21.30h
entretanto, pelos cinemas:
Ruínas de Manuel Mozos
e
Pare, Escute e Olhe de Jorge Pelicano.