Distante
São inúmeras as histórias em que o acaso acaba por ser um interveniente imprescindível na criação de uma obra cinematográfica. Como aquela história de Psycho em que Hitchcock filma a cena em que Norman consegue levar a Mãe ao colo do quarto para a cave sem revelar nada sobre a verdade do que vemos. Contra a sua vontade e fora do planeado inicialmente, acaba por filmar uma longa sequência em que a câmara sobrevoa o percurso de Norman e espera solitariamente à porta do quarto a sua saída. Quando depois revê a cena, Hitchcok muda totalmente de opinião.
Também o que há de perfeito em Uzak nasce do acaso. Ao que parece, no dia das filmagens, nevava em Istambul e, de modo a economizar ao máximo o brilhante e poético efeito paisagístico que essa brancura proporciona numa cidade de perfil muçulmano, Ceylan filma sem parar as cenas no exterior com Toprak, o primo distante que não encontra o seu lugar na cidade. Ao acaso, e só a ele, se deve o melhor deste filme.
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