3.15.2010

Devolver à terra

O cemitério, como o conhecemos, constitui hoje a cristalização de uma ideia de apego à religiosidade que pouco a pouco tende a desvanecer. Não porque nos afastemos literalmente da crença cristã mas porque esta, sem renunciar aos seus princípios basilares, encontra cada vez mais novas formas de expressão, num tempo em constante mutação.
Do mesmo modo que a condição mediterrânica se tende a aproximar pontualmente do modelo anglo-saxónico, também este encontra novos desígnios na forma de encarar a morte, num processo contínuo de dessacralização da mesma. Neste, o culto, memória e respeito pelos mortos não impedem outras actividades mais contemplativas como o passeio ou a meditação, baseando a sua origem na Natureza, na mudança cíclica das estações, analogamente uma forma de renovação eterna.
Este pressuposto assume contornos mais definidos quando se abandona a iconografia fúnebre característica destes lugares para, num acto de pura descodificação, anular o seu profundo teor religioso. Em Inglaterra, campos agrícolas, incultos, terrenos expectantes convertem-se em bosques que são também cemitérios. Na impossibilidade de uma qualquer evocação religiosa, os corpos são devolvidos à terra em troca do simples erguer de uma árvore. Lentamente, o lugar assume características distintas da sua origem, convertendo-se num bosque pontuado por árvores, cuja disposição rege uma nova ordem. Pelo meio, uma rede de percursos algo aleatória, regida pelas visitas ao lugar e pelo corte dos prados que tendem a crescer ao acaso.
Nunca o homem esteve tão próximo da natureza.

Via joLA.
+ Natural Burial Project.