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Regra geral, no nosso país, a construção de espaço público assume ainda um carácter defensivo na criação de espaços destinados à fracção infantil. Por um lado, a ditadura de uma legislação castradora e obsoleta na defesa do humano enquanto ser não racional, por outro a multiplicidade agonizante de catálogos de mobiliário infantil que ditam a rigidez do desenho e os próprios movimentos dos mais novos.
É clara a sua inexpressão em parques regidos por uma génese assente na descodificação. Nestes, não existe parque infantil tal como não existem propriamente campos de jogo ou circuitos de manutenção. Prevalece a experiência individual no usufruto do espaço, independentemente de códigos e valores instituídos.
Já nos parques infantis desenhados com uma função específica parece não existir espaço para a experimentação. Com base em estratégias rígidas de utilização, assumem-se como tal, espaços codificados pouco abertos a novas possibilidades que não aquela para a qual foram criados.
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Em Ultrecht, Holanda, um campo de skate no inverno dá lugar a um charco no verão. Fecha-se o ralo e abre-se uma nova possibilidade. Despem-se as roupas, vestem-se os fatos de banho e chapinha-se na água, indiferentes à qualidade da água que se deteriora com o tempo. (projecto do atelier
Carve)
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Num outro contexto, de acordo com um recente
artigo publicado no New York Times, face à forte crise financeira, jovens skaters americanos localizam piscinas privadas ao abandono através de pesquisas no google earth ou em anúncios de casas à venda em agências imobiliárias. De vassouras e baldes em punho, retira-se a água, limpa-se a superfície e inverte-se a acção. Uma piscina vazia dá lugar a uma pista de skate.
O mundo altera-se a olhos vistos. Alteram-se os hábitos e as relações entre os homens e, com eles, o sentido de apropriação das coisas.
3 Comentários:
Viva à descodificação e invenção no espaço urbano!
Giro este post. Era bom ter parques e parques infantis mais descomprometidos e também mais inovadores.
Cristina Gouveia
o skate em piscinas é muito antigo. Terá começado ainda nos anos 70 sobretudo na Califórnia onde muitas piscinas ficaram ao abandono devido à seca. Foi uma prática que ficou e o desfolhar de uma qualquer revista de skate é suficiente para o recordar (aliás é interessante ver as formas das piscinas, tão diversas e diferentes do tradicional e boring paralelipípedo).
Mas o que é deveras interessante é o recurso da nova geração de skaters a ferramentas como o google earth para descobrir os seus spots. Isso está a permitir globalizar a procura e já há gente de fora a rumar à Califórnia.
ff
ps: belo blog
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