6.07.2011

O génio de Malick, o devoto


A árvore da vida: o filme menos original do ponto de vista temático e conceptual, é, igualmente, o mais moderno dos filmes de Terrence Malick em termos de efeitos especiais. E aquele que, nas coordenadas espácio-temporais, mais se afasta: para as origens do Universo. Vaivém entre escalas, entre o mais próximo e o mais distante, entre o microscópio e o macroscópico, qual o lugar do Homem? A macroscopia revela-se, na verdade, como a mais superficial das abordagens: afinal, como ter uma imagem panorâmica de uma vida, uma qualquer, tenha ela a duração que tiver… É através de uma montagem irrepreensível entre imagem e som, entre o abstracto visual e o abstracto sonoro, que Malick cria o seu mais fértil e poético diálogo com o mistério que o consome. A ontogénese de Malick dá, desse modo, densidade ontológica à impassível cosmovisão kubrickiana elaborada em 2001: A Space Odyssey.

Ao contrário dos outros filmes que realizou, de Badlands a The New World, passando por Days of Heaven e The Thin Red Line, em que a narrativa/questionamento em off se torna uma das, suas imagens de marca, em The Tree of Life, essa narrativa/questionamento torna-se, pela primeira vez e definitivamente, obsoleta: se no início era o Verbo, agora é o Cinema. Malick, o devoto.