Camões
Este ano o Largo do Camões em Lisboa foi transformado, como é hábito, para a celebração de mais um 25 de Abril. Em vez do palco e dos artistas, este ano foi diferente, graças à acção do c.e.m., que para além de artistas de rua, bandas e exposições, colocou um tapete de relva sobre a calçada.
Esta pequena transformação mudou totalmente os usos dados a este espaço. Durante esta semana foi possível ver a enorme afluência de pessoas, que descontraidamente se iam sentando na relva para descansar, conversar ou simplesmente apanhar algum sol. A iniciativa pretendia estimular a reflexão sobre o que é hoje o 25 de Abril. Creio que as pessoas se deitaram e rebolaram sobre a resposta a esta questão, e em maior liberdade.
A quantidade de pessoas que por aqui passaram, sem que nada de extraordinário acontecesse (e sem querer desprezar as performances), demonstrou a falta que temos em Lisboa desse espaço de cidadania e liberdade que é o parque ou o jardim. Não foram precisos arquitectos ou paisagistas com grandes programas ou desenhos formais. Não foi necessário trazer grandes artistas ou convidados. Bastou um pouco de relva e sol para se passar melhor o dia e também a noite. De um modo geral, um parque ou um jardim não vivem só das soluções que o seu desenho ou projecto apresentam, mas da sua localização. Um parque pode ser formalmente muito interessante mas ser um deserto de almas, tal como o seu programa pode ser apenas relva e árvores e ter um papel crucial no dia a dia de uma cidade. Basta olharmos para Belém, para percebermos como a forma como um espaço verde se liga ao tecido urbano e à vivência das pessoas é sem dúvida mais importante que a espetacularidade formal do mesmo. Às vezes precisamos apenas, tal como no Largo do Camões, que o verdete venha ao de cima.
2 Comentários:
Brilhante!
Ainda pisei esse verdinho no Camões!
Fico contente por saber que nos dias seguintes foi sendo apreciado pelas pessoas!!
Bem dito e observado.
Cumprimentos
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