2.02.2009

O deserto vermelho

Monica Vitti é a nossa consciência pós-moderna. Depois de O eclipse (1962), as personagens de O Deserto Vermelho (1964) são novamente o arquétipo do indivíduo burguês do pós-guerra: tem tudo à disposição, uma vida planeada e organizada, uma casa funcional e sem excessos – e, no entanto, sofre. Guiliana é uma mulher com medo. De resto, o medo nas personagens e as paisagens vazias industriais são duas das principais características do cinema do pós-guerra. (Ingrid Bergman tinha medo na paisagem vulcânica de Stromboli; Gena Rowlands é neurótica e uma Mulher sob influência.) Mas, em O Deserto Vermelho, Giuliana é este paradoxo: sente-se fora de si, é dependente dos outros mas é distante, quer o mundo mas está desintegrada da sociedade. Resta-lhe um passeio com o filho pelos lugares vazios em redor das fábricas, entre o solo contaminado e o fumo amarelo venenoso. Só ela veste de verde nesta paisagem ocre. 

Neste filme de afectos, a paisagem electrostática é uma continuidade dessa vivência eclipsada, de uma presença invisível. Da paisagem desumanizada, ouvimos, no entanto, vibrações e silvos das máquinas e dos navios de carga, um ruído constante como uma respiração. Antonioni morreu mas podemos ainda encontrar a sua lucidez em Michael Haneke.