SAAL
As operações do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) preconizadas nos anos pós-revolução de 74 apresentam-se como as acções decorrentes do programa desenvolvido por Nuno Portas enquanto secretário de Estado da Habitação e Turismo, com o intuito de realojar os milhares de pessoas que viviam em situações precárias quando terminou a ditadura. O processo desenrolava-se entre os arquitectos e demais técnicos que elaboravam os projectos, as assembleias de moradores, enquanto os futuros residentes contribuíam com a mão-de-obra e o Estado comparticipava os materiais de construção. De uma intenção aparentemente simples de promover condições de habitabilidade às famílias residentes em barracas instala-se, de Norte a Sul do país, o desafio de projectar habitação social, debatendo e considerando os hábitos, costumes e modos de vida subentendidos das populações.
“As operações SAAL”, de João Dias, é um documento, em formato de cinema documental, com significativos aspectos positivos. Revela-se um trabalho ímpar em termos de investigação sobre esta temática. A ideia em si revela-se muito interessante, e mostra um sentido inteligente e sensível na forma como relaciona os pontos de vista dos técnicos e das pessoas em geral que cooperaram neste decurso, assim como o confronto com a realidade e o testemunho actual.
A requalificação do espaço por parte dos arquitectos em conflito com o que pretendiam as populações dá lugar a um movimento de auto-construção, fruto de uma apropriação e de uma imposição de quem sonha a sua casa. São retratados momentos curiosos e inteligíveis como um morador que mostra a sua habitação, actualmente com janelas em alumínio, alcatifa e outros adereços, e afirma com orgulho que tudo se encontra como o projecto original do arquitecto Álvaro Siza, ou mesmo quando um morador, após infrutíferas contestações sobre a sua futura habitação, responde a um arquitecto: “ o senhor que faça como se fosse para si, de certeza que eu vou gostar”.
As diferenças entre os resultados do que se passou no Algarve, Setúbal, Lisboa e Porto colocaram em causa os objectivos das operações SAAL, no entanto, posteriores processos de realojamento social nos anos 80 e 90 não se mostraram sensíveis à participação democrática, nem tão pouco afáveis na própria discussão em termos sociais, urbanísticos, de planeamento, de cidadania e de projecto ao nível do espaço público. Dá que pensar a oportunidade que os arquitectos tiveram em confrontar de forma directa o seu trabalho, havendo sem dúvida exemplos positivos neste processo.
A reflexão sobre os efeitos sociais e culturais no panorama da arquitectura nacional encontra-se implícita em toda a estrutura narrativa do filme, sendo acompanhada de um sentido de humor, por vezes gratuito, mas muitas vezes crítico. Manifesta-se por um objecto riquíssimo e consistente em factos e na informação que daí advém, apesar do seu maior pecado acontecer na montagem do próprio filme: transparece mais um formato televisivo do que o cinematográfico.
Apresentado anteriormente na Trienal de Arquitectura e DocLisboa de 2007, este documentário pode ser agora visto ou revisto no antigo cinema Alvalade, em Lisboa.
texto . Rita Gouveia, arquitecta paisagista
trailer
“As operações SAAL”, de João Dias, é um documento, em formato de cinema documental, com significativos aspectos positivos. Revela-se um trabalho ímpar em termos de investigação sobre esta temática. A ideia em si revela-se muito interessante, e mostra um sentido inteligente e sensível na forma como relaciona os pontos de vista dos técnicos e das pessoas em geral que cooperaram neste decurso, assim como o confronto com a realidade e o testemunho actual.
A requalificação do espaço por parte dos arquitectos em conflito com o que pretendiam as populações dá lugar a um movimento de auto-construção, fruto de uma apropriação e de uma imposição de quem sonha a sua casa. São retratados momentos curiosos e inteligíveis como um morador que mostra a sua habitação, actualmente com janelas em alumínio, alcatifa e outros adereços, e afirma com orgulho que tudo se encontra como o projecto original do arquitecto Álvaro Siza, ou mesmo quando um morador, após infrutíferas contestações sobre a sua futura habitação, responde a um arquitecto: “ o senhor que faça como se fosse para si, de certeza que eu vou gostar”.
As diferenças entre os resultados do que se passou no Algarve, Setúbal, Lisboa e Porto colocaram em causa os objectivos das operações SAAL, no entanto, posteriores processos de realojamento social nos anos 80 e 90 não se mostraram sensíveis à participação democrática, nem tão pouco afáveis na própria discussão em termos sociais, urbanísticos, de planeamento, de cidadania e de projecto ao nível do espaço público. Dá que pensar a oportunidade que os arquitectos tiveram em confrontar de forma directa o seu trabalho, havendo sem dúvida exemplos positivos neste processo.
A reflexão sobre os efeitos sociais e culturais no panorama da arquitectura nacional encontra-se implícita em toda a estrutura narrativa do filme, sendo acompanhada de um sentido de humor, por vezes gratuito, mas muitas vezes crítico. Manifesta-se por um objecto riquíssimo e consistente em factos e na informação que daí advém, apesar do seu maior pecado acontecer na montagem do próprio filme: transparece mais um formato televisivo do que o cinematográfico.
Apresentado anteriormente na Trienal de Arquitectura e DocLisboa de 2007, este documentário pode ser agora visto ou revisto no antigo cinema Alvalade, em Lisboa.
texto . Rita Gouveia, arquitecta paisagista
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