Finisterra
Percorremos a costa da Galiza rumo a um ponto distante. Várias vezes desconfiámos da nossa convicção quanto ao sítio que procurávamos, do qual nos falaram vagamente. Perante um relevo mais acentuado, o destino aproximava-se e as incertezas perduravam. Avançámos e recuámos. De olhos postos no mar, surgia-nos por fim a confirmação de algo que ambicionávamos: o cemitério de finisterra.
Da autoria do arquitecto César Portela, o cemitério de finisterra evade-se da imagem e configuração a que nos habituámos, dando lugar a uma outra realidade mais próxima do território e da própria condição humana.
Não existe um recinto enclausurado, não existem muros nem sequer uma organização elementar. O cemitério é feito de caixas de pedra dispostas ao longo da encosta, contíguas a percursos ruderais que serviam o Homem num tempo distante. A encosta permanece intacta perante a intrusão dos módulos que se conformam à sua morfologia. Geram-se tensões que, numa resposta concisa, contribuem para a criação de um novo lugar sobre um mesmo território.
A disseminação das caixas ao longo da encosta lembra-nos-á os afloramentos rochosos que por vezes teimam a destacar-se num relevo já de si rigoroso. São contudo, obra do homem que os imaginou incrustados num território do qual não quis abdicar. O tempo ditará a sua expansão quase aleatória ao longo da encosta.
Na ausência de muros, os limites são outros: a terra, o mar e o céu. O Homem na sua essência.
Por outro lado, também memória, silêncio e ausência.
2 Comentários:
Pena ser um cemitério morto...por causa da fama que tem ninguem la quer ir parar...
Gostei do texto. Parabéns.
M
Belo texto. A um tempo triste mas cheio de paz. Da paz que envolve o fim-da-terra, o fim-do-mundo, o fim-de-tudo: Finisterra.
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