4.04.2006

Percursos #1


Ainda debruçado sobre a obra de Abbas Kiarostami, uma questão que tende a persistir: a formalização dos percursos, a sua presença, a forma como o autor os vê, filma ou fotografa. Por outro lado, também a sua apropriação no nosso quotidiano, a forma como os entendemos e percepcionamos.
Em Kiarostami são caminhos, marcas lineares num território a perder de vista. Não reconhecemos um princípio nem um fim. Surgem como que suspensos numa imagem à qual pertencem e da qual dependem para a sua materialização. Uma estrada em ziguezague, um caminho perdido no meio de um vale ou um atalho que se contorce ao longo de uma encosta. No cimo uma árvore.
Em conjunto formulam algo que entendemos como paisagem. Não será na sua acepção estática, quando os visionamos paralisados numa fotografia ou imagem, mas algo mais, quando nos questionamos de onde vêm ou para onde vão. Cabe à morfologia da colina ou do vale, o corte das extremidades da linha, a quebra da continuidade que garante o vazio e a abstracção do todo. E é esse sentido de interrupção que sobressai e nos evade na sua obra fotográfica ou em filmes como “Através das Oliveiras”, “O Sabor da Cereja” ou “O Vento Levar-nos-á”.
Serão certamente, mais do que um objecto, uma experiência. Ou uma vivência.
Não sei como seriam os filmes de Abbas Kiarostami sem os percursos interrompidos de que falo, nem sei como seria percorrer pela primeira vez um caminho do qual conhecêssemos o fim. “Como se só houvesse caminhar e o chegar e o partir acontecessem em lado nenhum” (Samuel)

1 Comentários:

Blogger Ponto Verde disse...

O escândalo do Metro Sul do Tejo em www.a-sul.blogspot.com

7/4/06 19:06  

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