11.05.2006

Arte e Paisagem 2

O tema «Arte e Paisagem» tem marcado e vai continuar a marcar durante os próximos meses alguns dos principais eventos sobre paisagem. O último foi o colóquio de 29 e 30 de Setembro, «Arte e Paisagem» organizado pelo Instituto de História de Arte, Estudos de Arte Contemporânea, Unidade de Investigação financiada pela FCT da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

O que sobressaiu desse colóquio foi pouco. O lugar mais comum do termo «paisagem» é para designar algo de vasto e complexo mas esse facto tem permitido que seja utilizado para justificar qualquer enunciação vaga e sem orientação. É também um termo que está na moda, talvez no seguimento da atenção, cada vez maior, dada à ecologia e às perturbações que o homem tem causado nos sistemas naturais – sendo que «paisagem» transformou-se num irmão mais erudito do termo «ambiente», agora bastante generalizado. Juntando estas duas características conseguimos prever com facilidade o campo prolífero para a difusão de discursos disléxicos e cheios de preconceitos sobre paisagem.

Isso ficou bastante patente em quase todas as apresentações a que assisti desse colóquio (não me foi possível assistir às apresentações das mesas 4 e 5 de 30). Desde arquitectos e artistas a historiadores revelaram, no seus discursos bacocos, o desinteresse ou ignorância que têm sobre o assunto. Não foi a discussão das relações entre arte e paisagem que são, na verdade, dos processos mais interessantes na mediação, desde sempre, entre o homem e o território, mas sim o termo «paisagem» que serviu de pretexto ou simplesmente de título aos papers apresentados.

Uma das grandes excepções foi o trabalho apresentado pelo historiador Manuel Villaverde «A Avenida da Liberdade nas décadas de 1880 e 1890: entre a “realidade” e as representações». Utilizando o pretexto da abertura da Avenida da Liberdade como bastião da nova cidade capitalista, Villaverde revela a tensão entre as representações construídas do território e a realidade, e como essas mesmas representações estavam vinculadas a imagem ideológica que assentava nos humores do poder da comunicação de escritores, jornalistas, litógrafos e fotógrafos.

Outro trabalho entusiasmante foi apresentado pelo historiador Paulo Baptista. A comunicação de P. Baptista mostrou-nos alguns dos projectos fotográficos elaborados pela Casa Biel sob o comando de Emílio Biel entre os finais do século XIX até à I Guerra Mundial. Entre os quais se destacam as monografias «O Minho e as suas culturas», «O Douro: Principaes Quintas, Navegação, Culturas, Paisagens e Costumes» e «Caminho de Ferro do Douro» que revelam uma inovadora consciência estética da paisagem (P. Baptista). Um quarto projecto «A Arte e a Natureza em Portugal» revela‑nos uma ligação muito próxima com o naturalismo portuense e onde as comparações com «As Viagens na minha Terra» de Almeida Garret foram evidenciadas.

Imagens de Emílio Biel


O próximo evento é já entre os dias 6 e 30 de Novembro em Évora organizado pela AIAS (Association for Independent Art and Design Schools) e pela Universidade de Évora. O meeting AIAS 2006 está estruturado em redor do título Neolandscape e multiplica-se em workshops (6-9 Nov), conferências (8 e 9 Nov) e exposições (6-30 Nov). As conferências, a realizar na fundação Eugénio de Almeida, contam com alguns dos maiores pesos do discurso sobre paisagem, como o arquitecto paisagista Christophe Girot (ETHZ Zürich) e o teórico Allen S. Weiss (NYU).