Tortoise
No universo dos discos que fazem a nossa vida, a sugestão de paisagem parece surgir quase sempre associada à letra de uma canção, ao título de um álbum ou a uma simples imagem impressa numa capa. Por vezes conhecemos ou reconhecemos sítios, cidades, quando ao ouvido nos cantam uma letra vezes sem conta. Acabamos por formular uma imagem da mesma, a qual, incompleta, não corresponderá claramente à realidade, mas ao que imaginámos ou idealizámos a partir dela.
Noutro campo e longe da música dita “do mundo”, existem músicos que dificilmente conseguimos dissociar de uma determinada cidade ou lugar. Numa abordagem contemporânea, assimilam as especificidades locais para, a partir destas, imporem uma música global, mas que só aos mesmos pertence.
Nos Tortoise, não existem letras, apenas instrumentais. Não existe uma clara alusão a sítios ou lugares mas, na verdade, desde o início que a sua música nos desloca aos locais mais longínquos. Se por vezes, uma música demasiado cerebral nos transporta para paraísos artificiais, é clara a procura de uma certa espacialidade em alguns dos seus temas. Numa faixa podemos ser transportados para o frenesim da cidade, noutra para o mais bucólico dos campos. Mas também auto-estradas, lagos gelados, aeroportos, caminhos de ferro, estações hidroeléctricas, pontes, penhascos, florestas outonais, num sem número de imagens que sobrepostas geram algo que transcende a sua própria música.
São de Chicago mas poderiam ser de outro sítio qualquer.
Acabam de lançar a retrospectiva “A Lazarus Taxon” (Thrill Jockey, 2006), compilação de singles, raridades, vídeos e lados b.
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