Piscinas
Desenhar uma piscina torna-se nos dias que correm uma tarefa árdua, no sentido de desvincular o cliente da ideia pré-concebida do formato “rim” que abraça uma constelação de palmeiras para, numa síntese formal, reduzi-la ao essencial.
Querem-se piscinas longilíneas assentes sobre uma plataforma em pedra ou, em situações menos felizes, sobre deck de madeira, desdobrada a partir de um alçado da casa branca, sobre o qual reflectem os movimentos da água em dias de vento. O remate reduzido ao mínimo é essencial na sua integração, com o nível da água, sempre que possível, à cota do pavimento. Por vezes, adoptam-se telas que as camuflam no inverno, inibindo a sua capacidade de assimilação das especificidades de uma estação. Varrem-se as folhas da superfície inócua e anula-se a passagem do tempo.
No filme “O Pântano” de Lucretia Martel (La Ciénaga, 2001), uma piscina numa casa de campo nos arredores de Buenos Aires, serve de palco a uma série de actividades improváveis nos dias de hoje. Em redor da superfície de água, fazem-se almoços, conversa-se ao sol, bebe-se vinho, molham-se os pés. Os mais novos flutuam deitados em bóias improvisadas ou saltam e fazem “bombas” - infância. A água multiplica-se em salpicos e molha os mais distraídos que olham o sol filtrado pelas lentes dos óculos escuros. As folhas derivam à superfície sobre um lençol de água suja que teima em perdurar até ao início do Outono.
Tenho saudades das tardes de verão passadas com amigos dentro do tanque de rega dos avós, caixa caiada de branco erguida entre as laranjeiras no meio da horta, com limos no fundo e carpas vermelhas trazidas num balde de um açude próximo num dia de pesca.
Querem-se piscinas longilíneas assentes sobre uma plataforma em pedra ou, em situações menos felizes, sobre deck de madeira, desdobrada a partir de um alçado da casa branca, sobre o qual reflectem os movimentos da água em dias de vento. O remate reduzido ao mínimo é essencial na sua integração, com o nível da água, sempre que possível, à cota do pavimento. Por vezes, adoptam-se telas que as camuflam no inverno, inibindo a sua capacidade de assimilação das especificidades de uma estação. Varrem-se as folhas da superfície inócua e anula-se a passagem do tempo.
No filme “O Pântano” de Lucretia Martel (La Ciénaga, 2001), uma piscina numa casa de campo nos arredores de Buenos Aires, serve de palco a uma série de actividades improváveis nos dias de hoje. Em redor da superfície de água, fazem-se almoços, conversa-se ao sol, bebe-se vinho, molham-se os pés. Os mais novos flutuam deitados em bóias improvisadas ou saltam e fazem “bombas” - infância. A água multiplica-se em salpicos e molha os mais distraídos que olham o sol filtrado pelas lentes dos óculos escuros. As folhas derivam à superfície sobre um lençol de água suja que teima em perdurar até ao início do Outono.
Tenho saudades das tardes de verão passadas com amigos dentro do tanque de rega dos avós, caixa caiada de branco erguida entre as laranjeiras no meio da horta, com limos no fundo e carpas vermelhas trazidas num balde de um açude próximo num dia de pesca.
Pesa-me a consciência.
5 Comentários:
armando
gostei muito deste texto.
mas quando vi o filme a minha percepção ficou condicionada pela humidade, pelos mosquitos, pela premonição do que se segue, e não pude ver esta poética extensão de águas paradas..
susana,
a relação com a piscina é só uma das maravilhas do filme.
acho que, para além da questão da premonição de algo que está para acontecer (que quase nos faz esquecer de tudo o resto), o filme prima por três aspectos fundamentais: interior, exterior e (sobretudo) a relação entre ambos.
sobre isso falarei mais à frente...
o texto recoloca a velha questão da relação entre evoluir e o prazer. Não são melhores as piscinas de hoje? Certamente, mas talvez não tão divertidas, ou melhor, com uma carga simbólica menos...simpática, digamos. Mas deviamos voltar a fazer tanques de rega para as nossas casas?
Bem vindo anonymous!
O texto foi escrito a pensar nessa mesma dicotomia. respostas não tenho...
ab
Olá
Não vi esse filme, mas deve ser mesmo o tipo de filme que eu gosto enigmático. Mas escrevo não para falar nele mas nos tanques versus piscinas
Adoro tanques e na quintinha que comprei no ribatejo preparava-me para fazer isso mesmo construir um tanque em vez de uma piscina asséptica com formato moderno, mas descobri que debaixo de uma camada quase impenetrável de silvas e outras plantas que tenho um tanque, desse mesmo que serviam para rega e fiquei deslumbrada. Esse tanque teve concerteza muitas crianças a banharem-se nele em dias de calor ribatejano e terá os meus filhotes também a divertir-se lá dentro.
Não irei cobri-lo apenas vedá-lo para controlar as crianças, mas ficará aberto à passagem das estações...
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