Juventude em Marcha
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No filme assistimos ao processo de realojamento das famílias do bairro das Fontaínhas num novo bairro social, novo lugar branco e asséptico. Aqui ficção e documentário sobrepõem-se. As personagens e respectivas vivências são reais, sintetizadas por um realizador que faz questão de lhes dar uma voz. Os olhos de Ventura, o mais velho habitante das Fontaínhas, filtram o presente e remetem-nos por vezes para o passado, num movimento espacio-temporal que esclarece o antes e depois do espaço habitado. As paredes brancas do interior dos novos apartamentos contrastam com as cores saturadas das construções do antigo bairro. O espaço exterior parece inóspito quando comparado com as ruas intricadas entre as habitações das Fontaínhas, prolongamentos para o exterior da casa e das vivências a si associadas.
Vanda recebe Ventura no seu quarto para, com a televisão ligada, lhe relatar o presente face a um passado que ainda lhe é próximo. Falam sobretudo de mudança, no fundo o que surge subjacente à questão da relocalização. Passado e presente, espaço e tempo fundem-se num todo, questionando esta problemática de uma forma incisiva. O espaço em que habitam ou o anterior que abandonaram expõe as personagens, as suas forças e os seus medos.
Numa sequência do filme, numa visita à Fundação Gulbenkian, a qual Ventura ajudara a erguer nos seus primeiros trabalhos na construção civil, a câmara foca-o sentado num dos cadeirões do museu da instituição. Sentimo-lo deslocado, mas talvez não tanto como no novo bairro no qual habita, sozinho no seu apartamento de cinco assoalhadas.
Numa sequência do filme, numa visita à Fundação Gulbenkian, a qual Ventura ajudara a erguer nos seus primeiros trabalhos na construção civil, a câmara foca-o sentado num dos cadeirões do museu da instituição. Sentimo-lo deslocado, mas talvez não tanto como no novo bairro no qual habita, sozinho no seu apartamento de cinco assoalhadas.
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