8.29.2007

Clareiras para Linces

Abrir clareiras parece ter sido das primeiras operações humanas exercidas sobre o território. Estas clareiras seriam abertas de preferência com fogo, na floresta inexpugnável. Ao retirar os estratos arbóreos e arbustivos, o Homem estava a abrir caminho à possibilidade de plantar e semear plantas herbáceas pioneiras que forneciam alimento anualmente a si mesmo e ao gado. O processo inverso, o de florestar, apareceu mais tarde, com o objectivo de proteger os avanços do mar, fornecer lenha para os mais diversos fins – construção, aquecimento, papel - ou por razões ideológicas.A Serra da Malcata pode testemunhar esses processos todos: Depois de um sistema de pastorícia extensivo, veio a intenção nos anos 80 de florestar toda aquela região com eucalipto. Esta intenção iria impossibilitar a existência de um habitat essencial para uma espécie em vias de extinção – o lince ibérico, cuja presença apenas se deduzia. Depois da Reserva Natural criada, voltaram-se a abrir clareiras nos matos entretanto crescidos. Estas clareiras que se assemelham a campos de golfe são semeadas com prado e foram abertas para ajudar à proliferação do coelho-bravo, o prato preferido daquele felino.

2 Comentários:

Blogger Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Resta apenas saber se o felino (o mais ameaçado de extinção no mundo) alguma vez aí voltará a caçar coelhos-bravos (espécie também ameaçada pelas doenças e outros factores que se conhecem).

É que depois de anos em que se trabalhou para preparar a Reserva para o "seu" regresso, inclusivamente ao nível de mostrar às populações locais as vantagens da existência aqui de uma Área Protegida, eis que...

Eis que este governo tira um "coelho da cartola"...e talvez como forma de tentar calar os opositores de Odelouca (e de mostrar "boa vontade" a Bruxelas) decide levar o centro de reprodução em cativeiro para o Algarve. A surpresa foi total mesmo entre alguns membros da Comissão de Acompanhamento luso-espanhola...

Tanto esforço na reconversão da paisagem (e das mentalidades) na Malcata, para nada? Alguns argumentarão que o que importa é salvar a espécie e ter um centro de reprodução em Portugal...e que daí, no futuro, poderão ir alguns linces para a Malcata. Sim, é verdade.

Mas se as intenções são assim tão boas porque se procedeu desta forma?

A verdade é que na Malcata se investiu muito, e não apenas na reconversão da paisagem...em Portugal as mentalidades são mais difíceis de mudar do que a paisagem. E para estas gentes da Raia deixou de ser possível acreditar que alguns sacrifícios ao nível da ocupação do território valem a pena...até porque tudo o que ganharam do Estado foi uma mão cheia de nada.

Curiosamente, e já que falava de "campos de golfe" no seu texto, receio que a rega dos campos de golfe algarvios seja um dos destinos dessa água de Odelouca.

Quem cá está no Interior já está habituado a nada receber do Estado Central, evitavam era de ter criado estas expectativas. É que esta gente da Raia aprendeu a gostar da ideia de ter o lince de volta; desiludidos, não voltarão a acreditar em promessas. A confiança só se perde uma vez!

30/8/07 20:14  
Blogger samuel disse...

Esta situação mostra também a inoperância e leveza institucional do Instituto de Conservação da Natureza, que nos ano 80 e 90 tinha muito mais peso na decisão destas matérias...

4/9/07 09:55  

Enviar um comentário

<< voltar