7.24.2007

Terra usada

Na escola da nossa altura, as causas ecológicas eram uma das poucas ideologias oficiais. Na primária, havia o dia da árvore com uma equipa da câmara a plantar um pinheiro no recreio. Era giro. Já no liceu, lembro-me de desenhar cartazes com um tema “ecológico” à escolha para meter na sala de aula. Agora questiono-me se todas essas coisas não terão tido o efeito que a leitura obrigatória de “O Primo Basílio” teve no nosso interesse pela literatura.

A ideia de Natureza, como coisa que existe como oposição ao artificial, parece vir da ideia de Homem como ser com uma posição destacada no universo e com um papel privilegiado nos planos de Deus. Esta exclusão do Homem da esfera do mundo natural coloca muitos discursos ecologistas demasiado próximos das ideias que pretendem combater: a defesa da natureza é também a defesa desta ideia de natureza da qual o Homem é excluido. Este maniqueísmo Homem – Natureza, tornou demasiado cómodo opinar acerca de qualquer assunto que envolva a transformação antrópica da paisagem. Vulgarizou-se assim a opinião de que coisas vagas como o “betão”, as auto-estradas, a construção em altura, os armazéns industriais, são coisas más para a “Natureza”, o “Ambiente” e a “Paisagem”.

No Center for Land use interpretation podemos ver fotografias de vestígios humanos recentes na paisagem americana apresentados sem que carreguem o peso de um juízo moral preconceituoso. As imagens surgem com o distanciamento de quem olha para a represa de um castor ou para uma termiteira, para as crateras na lua deixadas pelas colisões de meteoritos ou para uma colónia de bactérias vista ao microscópio. Quando muitas vezes algumas mensagens ecologistas se fazem acompanhar de uma estética demasiado previsível, ligeiramente irritante, este imaginário parece mais justo, mais adequado para apoiar uma reflexão sobre o uso da Terra pelo Homem.