Igualada

Existem outros cujas características anteriormente enunciadas, apesar de gerarem uma aproximação, não o explicam claramente. As fotografias são muitas, os textos também, mas o lugar revela-se outro quando próximo.
Quando falamos ou ouvimos falar no cemitério de Igualada, o termo recorrente é claramente o sentido de apropriação do território, o forte vínculo a uma terra talhada, extorquida pelo homem ávido de minerais. Como se a sua concepção se regrasse a partir dos princípios que constróem a paisagem que o envolve.


O cemitério é, de facto, exemplar na fusão entre arquitectura e paisagem, na procura de uma identidade intrínseca a uma realidade que não será próxima a um estranho que olha pela primeira vez os montes decepados pelo severo trabalho das máquinas. A sua construção, atenta ao lugar, incorpora a sua matéria prima na elaboração de um recinto distinto, sagrado de sua natureza. Os calhaus nos muros de gabiões, as gravilhas no pavimento compactado, o betão derivado da pedra extraída do local.
Enric Miralles e Carme Pinos subvertem a ideia do típico cemitério mediterrânico, devolvendo aos mortos o lugar que lhes pertence no leito de uma antiga pedreira, em contraponto ao recinto murado implantado no cimo de um monte com o qual nos familiarizámos. Questionando o fechar de um ciclo por meio de uma inversão morfológica, assinalam uma obra notável, de sentido crítico, não só antropológico mas também espacial, face a um território adverso, que a tal obrigava. 



Igualada é assim. Mas é também uma cidade com um centro ausente, sem movimento, onde o tempo teima em não passar. À entrada um hotel de nome “América” desvia-nos o olhar para a periferia, onde o recreio acontece sob um calor intenso entre os montes de terra em constante movimento. Há quem atire pedras para o vazio e quem use os campos ondulados para corridas de automóveis. Os homens demarcam-se da luz difusa que incide sobre as terras que teimam em deslocar-se. Desta realidade, ninguém nos falara.
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