2.24.2006

Agnes Denes – “Wheatfield – A Confrontation” I

“Wheatfield” seria um momento estranho em qualquer cidade. “Wheatfield” é um momento ainda mais estranho por se ter passado em Nova Iorque.

“Early in the morning on the first of May 1982 we began to plant a two-acre wheatfield in lower Manhattan, two blocks from World Trade Center, facing the Statue of Liberty.”



“Wheatfield” fala-nos de esperança e da generosidade da natureza. Fala-nos também da criação de paisagens improváveis, ou mesmo impossíveis, de inventar. E fala-nos de tempo. Tempo de vida das plantas na terra, tempo das imagens que a natureza, mesmo que artificializada, pode criar. E de como esse tempo se torna o nosso tempo e parte da nossa vida, dos nossos pensamentos, do nosso estar no mundo.


“We harvested the crop on August 16 on a hot, muggy Sunday. The air was stifling and the city stood still. All those Manhattanites who had been watching the field grow from green to golden amber and had gotten attached to it – the stockbrokers and the economists, office workers, tourists, and others attracted by the media coverage – stood around in sad silence. Some cried. TV crews were everywhere, but they too spoke little and then in a hushed voice.
We harvested almost 1000 pounds of healthy, golden wheat.”



Podia-se falar dos 200 camiões de lixo retirados do terreno. Podia-se falar dos 80 camiões de terra descarregada para fazer crescer tão singular paisagem. Podia-se falar dos 4,5 biliões de dólares que custava este pedaço de mundo. Podia-se falar do complexo de luxo que a seguir ali surgiu. Mas “Wheatfield” é muito mais que isso.

“Wheatfield affected many lives, and the ripples are extending. Some suggested that I put my wheat up on the wheat Exchange and sell it to the highest bidder, others that I apply to the government for a farmers’ subsidy to prevent me planting the next year. Reactions ranged from disbelief to astonishment, from ridicule to being moved to tears. A lot of people wrote to thank me for creating Wheatfield.”

Quando entre os arranha-céus de Manhattan surge um campo de trigo, não é demais utilizar a palavra amor.



Texto retirados de: Denes, A., 1992, “Wheatfield – A Confrontation”, Cornell University, New York.

2.21.2006

Tempestade de Gelo

No filme Tempestade de Gelo de Ang Lee, numa tarde de inverno, uma piscina vazia envolta num bosque de caducifólias surge como lugar de encontro fortuito entre um casal de adolescentes. Aqui, forma e função afastam-se como o gelo que tende a quebrar-se com o frio resultante da tempestade que se avizinha.
Ou talvez não.
Sempre me questionei acerca da especificidade dos espaços que construímos, da forma como são utilizados e dos códigos que lhes atribuímos.
Agrada-me a ideia de podermos usufruir de uma piscina como local de encontro no inverno ou de uma praça transformada numa piscina num verão de calor.

Tempestade de Gelo (The Ice Storm), Ang lee, 1997.

2.16.2006

Em Modo de Divulgação

O segundo Prémio Nacional de Arquitectura Paisagista, atribuído pela 5ª UrbaVerde (uma "feira dos profissionais do mercado das cidades"...) que ocupou um pavilhão da FIL entre 1 e 3 de Fevereiro, premiou o Parque Linear de Ourém (2003) dos arquitectos paisagistas João Nunes e Carlos Ribas (PROAP).




Parque Linear de Ourém
(imagens da Proap)


Parque Linear de Ourém
(imagem do site da Ordem dos Arquitectos Secção Regional Sul)

O segundo lugar foi dado ao projecto Valorização Paisagística da Envolvente à Torre-Paço de Évoramonte dos arquitectos paisagistas Alexandre Lisboa e Francisco Caldeira Cabral, o terceiro à Requalificação do Largo do Monumento ao Campino (Vila Franca de Xira) da arquitecta paisagista Catarina Viana (Topiaris).

Foram também dadas duas Menções Honrosas ao Palácio Vila Flor (Guimarães) do arquitecto paisagista Jorge Maia e dos arquitectos Fernando Seara de Sá, Raul Roque, Alexandre Coelho Lima e Manuel Roque e ao Largo Vitorino Damásio da arquitecta paisagista Maria João Jesus e da arquitecta Sofia Andrade (C.M. Lisboa).

2.06.2006

Finisterra
Percorremos a costa da Galiza rumo a um ponto distante. Várias vezes desconfiámos da nossa convicção quanto ao sítio que procurávamos, do qual nos falaram vagamente. Perante um relevo mais acentuado, o destino aproximava-se e as incertezas perduravam. Avançámos e recuámos. De olhos postos no mar, surgia-nos por fim a confirmação de algo que ambicionávamos: o cemitério de finisterra.

Da autoria do arquitecto César Portela, o cemitério de finisterra evade-se da imagem e configuração a que nos habituámos, dando lugar a uma outra realidade mais próxima do território e da própria condição humana.
Não existe um recinto enclausurado, não existem muros nem sequer uma organização elementar. O cemitério é feito de caixas de pedra dispostas ao longo da encosta, contíguas a percursos ruderais que serviam o Homem num tempo distante. A encosta permanece intacta perante a intrusão dos módulos que se conformam à sua morfologia. Geram-se tensões que, numa resposta concisa, contribuem para a criação de um novo lugar sobre um mesmo território.
A disseminação das caixas ao longo da encosta lembra-nos-á os afloramentos rochosos que por vezes teimam a destacar-se num relevo já de si rigoroso. São contudo, obra do homem que os imaginou incrustados num território do qual não quis abdicar. O tempo ditará a sua expansão quase aleatória ao longo da encosta.


Na ausência de muros, os limites são outros: a terra, o mar e o céu. O Homem na sua essência.
Por outro lado, também memória, silêncio e ausência.