3.21.2006

Perturbações

Perturbação: qualquer acontecimento relativamente discreto que for caracterizado por uma frequência, intensidade e severidade fora de um limite previsível, e que desfizer estruturas populacionais, comunitárias ou dos ecossistemas, e que altere recursos, disponibilidade de substrato ou ambiente físico. Pickett e White (1985) modificada por Resh e outros (1988)

Uma perturbação é todo o fenómeno que resulta no questionamento de um determinado sistema. Desse questionamento pode não resultar qualquer resposta do sistema, falamos então de resistência ou persistência do sistema; pode também resultar na obliteração total do sistema quando a sua organização se vê impotente para assimilar e reencontrar um novo estado; ou, mais frequentemente, pode provocar uma reestruturação ou recuperação e retoma o estado inicial – resiliência – ou evolui para um outro estado de maior ou menor complexidade.

A acção do homem, utilizando a inteligência e o instinto, consegue exercer perturbações que causam profundas alterações na organização dos ecossistemas. Chamemos a estas acções de Perturbações Antrópicas em oposição às perturbações causadas pelas acções telúricas, entrópicas e biológicas. A questão da artificialidade e da naturalidade dessas perturbações não é uma discussão tão linear ou consensual como é por vezes dado a entender. Não queria entrar para já nesta discussão, mas julgo haver à partida uma confusão entre perturbação enquanto fenómeno, que pode ser natural ou artificial (embora estas duas designações são ridiculamente redutoras), e a resposta dos sistemas a essas perturbações, que pode ser considerada, basicamente, como natural. Aqui o termo natural é atribuído à natureza reactiva e intrínseca do sistema perante uma alteração à sua organização. No entanto, o homem consegue secar pântanos, regar desertos, alterar cursos de água, transformar e recriar ecossistemas, construir cidades onde antes havia floresta, manipular os sistemas sociais locais e globais, com intensidade e frequência cada vez mais notáveis.



A construção de uma barragem, como a de Pedrógão, inserida no Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva gerida pela EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, S.A.), provoca os sistemas afectados pela sua implantação a reagirem. Os sistemas agro-pecuários, turísticos, económicos locais, sociológicos das comunidades humanas que vivem nas proximidades, os sistemas micro-climáticos, hídricos, micro-fitogeográficos, faunísticos, reorganizam-se e simplificam-se nuns casos ou adquirem complexidade noutros. Mas até os sistemas se reorganizarem num novo estado, existem condições para a ocorrência de fenómenos pouco comuns.

O primeiro instante, o imediatamente após a acção de uma qualquer perturbação, os sistemas ficam como que suspensos em estados por vezes paradoxais e múltiplos. Existe um espaço para acontecimentos imprevistos e instáveis, e acentua-se tanto a transitoriedade como a irreversibilidade do tempo.

3.10.2006

Nesta altura do ano, algumas ruas empedradas da cidade, especialmente aquelas com cubos de basalto, têm uma multidão de ervinhas a surgir entre as juntas, formando uma minúscula seara verde que desponta numa quadrícula entre as pedras negras que brilham molhadas à luz do meio dia, e que, às vezes, quando vista de esguia, parece cobrir completamente o chão. Sentia com os pés o relevo da calçada irregular e pensava que esse basalto retirado da montanha, cortado em cubos e metido sobre o terreno compactado, os milhões de sementes que germinam com a chuva e as folhas tenras das gramíneas que se erguem ao sol de Inverno, tudo isso é tão natural como o Alasca, a Amazónia, ou o Serengeti selvagem e mais os seus leões, hienas, gazelas e Davids Attenbouroughs. O som do eléctrico que passava nessa rua, metal contra metal, a roda a deslizar no carril, é tão natural como o som de um riacho a borbulhar na Serra da Estrela. Pensava vagamente em tudo isso e olhava agora para as ervas que cresciam num muro velho. E se toda a gente morresse hoje, como seria a cidade dentro de dez, vinte, trinta, mil anos? Via aquelas ervinhas como um indício da mata que está sempre à espera, debaixo das calçadas, para engolir a cidade como a floresta amazónica engoliu cidades inteiras dos Incas e dessa malta toda antes do Colombo. Mais tarde ou mais cedo, supunha, também Lisboa iria ser uma mata ou um deserto. Tudo é Natureza: a pedra da calçada, as ervas que crescem nas suas juntas, o metal do carril e o som que a roda do eléctrico faz nele ao passar. Perguntava-se porque raio há então essa palavra, Natureza, se aparentemente tudo se inclui no conceito a que ela se refere. Para perceber isso teria que ler filosofia, história das ciências, até teologia talvez… Mas estava tão bom tempo, as ervas húmidas brilhavam entre os cubos de basalto, havia A Bola com o balanço do glorioso jogo do dia anterior, não se ia agora meter em bibliotecas, a apanhar pó.

3.09.2006

4 Biennal Europea de Paisatge


A 4ª Bienal Europeia de Paisagem, organizada pela Secção de Barcelona do Col-legi d’Arquitextes de Catalunya (COAC), pelo mestrado em Arquitectura da Paisagem da Universitat Politècnica de Catalunya e pela Associació d’Amics de la Universitat Politècnica de Catalunya, ocorre entre 23 e 25 de Março.
Contrariando o que vinha a ser hábito nas anteriores três sessões, a bienal foge de um único tema, propondo “uma estrutura mais complexa, de forma a diversificar e enriquecer os conteúdos do simpósio”. Assim, no primeiro dia são apresentados os 10 finalistas do Prémio Europeu de Arquitectura Paisagista Rosa Barba:

1. Latitude Nord, Gilles Vexlard e Laurence Vacherot


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)

2. Karres en Brands, Sylvia Karres e Bart Brands


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)


(imagens Kuhn Truninfer Landschaftarchitekten GMBH )

4. AKKA, Anna Kucan


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)


(imagens Vetsch Nipkow Partner AG)

6. Pere Joan Revetllat i Mira e Carme Ribas Seix, Arquitectes


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)


7. Janson + Wolfrum, Architektur+Stadtplanung


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)

8. Toni Gironès Saderra


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)

9. Paysages - David Verport


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)

10. RCR . Rafael Aranda, Carme Pigem, Ramon Vilalta


(imagem em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)


No segundo dia, provavelmente o mais interessante, é constituído por debates comissariados pela arquitecta paisagista Catherine Mosbach em torno do tema “Paisagem: um produto – uma produção”.

A paisagem como produto quer enfatizar a conotação resultante como produto de um programa de necessidades: funções contextos... Resultados que podem reduzir-se a colmatar falta ou uma negligência.
A paisagem (o projecto) seria então «estável, definido, predefinido e actual», concebido para acompanhar uma sociedade num dado momento e instruir os seus lugares de vida.

A paisagem como produção introduz, em câmbio, as noções de processo e protagonistas, de participação e desenvolvimento, de interface e aleatoriedade. Estes aspectos interrogam os conceitos de finalidade, movimento, evolução e memória viva ou em stock. Falam-nos do papel fundamental da actividade reflexiva e da análise casuística.

É para a tensão entre estes dois pólos que Catherine Mosbach conduzirá o debate e as contribuições dos convidados, propondo, em “campo aberto”, uma aproximação à profissão a partir de pontos de vista diferentes: da arquitectura para a arte, da teoria para a técnica, da crítica para a paisagem.
(texto em 4ª Bienal Europeia de Paisagem)

No último dia, é convidado um território: o IBA Fürst-Puckler-Land. Trata-se de uma recuperação a larga escala de uma mina em céu aberto de lignite.