9.30.2007

Easy parking in the 60's

Ao procurar algumas preciosidades na loja Lusitania Postcards, encontrei estes velhos postais onde ruas, praças e avenidas serviam de sítios para estacionar. Nos anos 90 e 00 a reabilitação dos centros históricos passa pela sua devolução ao peão, em parte com o objectivo de reaver a imagem das primeiras fotografias do séc. XIX em que as praças e as pessoas pareciam envolvidas numa aura de mistério, num idílico estado pedonal.
Talvez nas próximas décadas surjam iniciativas políticas de devolver os carros às praças, de modo a dinamizar o comércio tradicional.

9.26.2007

Manhãs de Alvalade

Inscrições ou mais informações aqui.

9.24.2007

ANTI-URINADOR

Elementos icónicos, referências culturais, estimulam e marcam comportamentos, interpretações do espaço, do tempo e da paisagem. Porque incorporam na edificação de pensamentos interferem também nos processos cognitivos e, consequentemente, nos mecanismos intelectuais que são usados na transformação do território. No decurso, essas acções automáticas tomam a forma de tiques culturais que se vão revelando ou através de acções ou de comportamentos / interpretações. Uma evolução natural destes tiques será o automatismo e/ou autismo que se traduz na limitação e redução da liberdade de cada um.

Os «Supersudaca» utilizaram em Lima, no Peru, algumas das referências mais influentes na comunidade para manipular os automobilistas que constantemente paravam para urinar contra um muro à entrada de uma zona residencial. O poder municipal tinha já tentado, sem grandes resultados, persuadir os automobilistas a mudar de poiso com cartazes a apelar à contenção.

O mecanismo apresentado pelos «Supersudaca» consistia em utilizar duas das personagens com maior influência na comunidade: Jesus e Sarita Colonia Zambrano (a «padroeira dos pobres», a santa do povo).

Imagens dos dois foram estampadas numa faixa branca colada a um metro de altura e, para testar a influência das imagens, expandiram a faixa, em branco, por mais alguns metros. Em cima das imagens escreveram as frases: «NO LO HAGAS. TE ESTOY MIRANDO». Como previsto, as pessoas respeitaram os seus padroeiros e usaram apenas o muro livre de influências divinas.

Os «Supersudaca» conseguem denunciar com esta acção o poder de algumas imagens têm na controlo de comportamentos e de acções que daí advém directamente. E simultaneamente demonstram a influência ou a relação que o espaço público consegue obter na manipulação de massas.

Via «MONU»

9.21.2007

Outono

9.19.2007

Natureza Morta #2

Quando escrevemos acerca de Still Life de Jia Zhang-ke, a ausência de imagens ou referências dificultava o seu entendimento.

O Pruned disponibilizou alguns excertos do mesmo. Escolhemos um.

Juntamos também algumas impressões registadas pelo fotógrafo canadiano Edward Burtynsky acerca da transformação do território em torno da Barragem das Três Gargantas, a temática dominante do filme.

9.12.2007

O espaço do viajante

Ladri di biciclette

Deleuze identifica a Segunda Guerra Mundial como ponto de viragem cinematográfico pontuado por um novo elemento espacial: as cidades ficam irreconhecíveis no pós-guerra. São um espaço destruído e a reconstruir, um espaço qualquer e espaço de ninguém. A devastação dos espaços familiares provoca o seu não reconhecimento; é um espaço indiferente e indeterminado. Esta atopia cinematográfica significa o fim da imagem-acção: não há nem reacção, nem reconhecimento, motivos pelos quais o espaço qualquer é um elemento essencial à passagem cinematográfica para a imagem-tempo do cinema moderno.

"A imagem já não tem como características [primeiras] o espaço e o movimento, mas a topologia e o tempo" (Deleuze). O espaço qualquer deixa de ser histórico e passa a ser ontológico – ele é o lugar da génese, da dramatização alicerçada, por exemplo, na bicicleta indispensável para percorrer a cidade, trabalhar e sustentar a família em Ladri di biciclette. O instante da configuração topológica e temporal desta situação
é o momento de criação do singular. As extensões vazias ou as cidades destruídas nos filmes de Vittorio de Sica, Michelangelo Antonioni ou de Roberto Rossellini, a virtualidade do espaço vago e anónimo reforçam a osmose entre o lugar e a vivência da personagem. Nas velocidades modernas, o sujeito já não ocupa o seu lugar mas desloca-se, não tem território. "O espaço do viajante seria, assim, o arquétipo do não-lugar" (Augé).

9.02.2007

Ceiroquinho

Numa zona de relevo rigoroso, a presença de linhas de água dita o povoamento, condição essencial à prática da agricultura, modo de subsistência numa região em que os recursos são mínimos.
A aldeia de Ceiroquinho ocupa um vale integrado na extensa cadeia montanhosa da serra do Açor. Um pequeno núcleo de casas alcandoradas ao longo de uma encosta debruça-se sobre uma linha de água, essencial na sua génese e sobrevivência.
Chegámos num dia de calor, deambulando por um percurso tortuoso aparentemente sem um fim à vista. Em baixo, a aldeia, disposta no sopé da encosta, concentrado de casas em pedra, umas mais antigas, outras de construção recente, ligadas por percursos intricados ajustados às necessidades da povoação.Imagens recentes da piscina da aldeia ditaram a visita. No local, a relação entre ambas não é clara. A piscina afasta-se da aldeia por meio de um percurso que contorna uma elevação oposta à implantação do casario. Enquanto subíamos, cruzámo-nos com homens de calções e vassouras às costas. Finalizavam o grande dia da limpeza da piscina, dia a partir do qual estava aberta a época balnear dos seus habitantes. Em baixo, os jovens aguardavam ao sol a subida das águas. A piscina alimenta-se da água de um pequeno riacho que a contorna. A água, redireccionada por uma pequena comporta, enche a piscina para voltar ao seu leito normal após atingir o limite desejado e determinado pelos descarregadores de superfície. O desenho parece resultar de um gesto intuitivo, espontâneo, materializado numa plataforma principal que se ajusta ao relevo existente por meio de lances de escadas e plataformas secundárias que criam áreas de estadia ou de banhos para os mais pequenos. Por outro lado, reflecte um sentido de comunidade pouco comum nos dias de hoje. É mantida pela povoação local e, na ausência de limites físicos, aberta aos transeuntes. Enche-se no pico do calor para devolver no Outono a água ao circuito normal do riacho. Um caso notável de apropriação de um território e da sua dinâmica familiares aos habitantes da aldeia, longe de uma acção demasiado planeada, acto distante e por vezes contraditório com uma realidade ainda mais longínqua.

mais informação e fotografias aqui (ver secção Fotos).