10.28.2007

Ibo

Os mortos sempre copiaram os vivos. Habitam os mesmos lugares, ocupam morros em casas com vista privilegiada ou dispersam-se por periferias a perder de vista. A última habitação surge como um prolongamento da sua vida, denotando sinais de ostentação de uma anterior vivência, em contraponto a outros cujo desfecho de uma vida difícil apenas lhe permite uma passagem fugaz pelo recinto sagrado.
Os indícios de tal assimetria atenuam-se quando alguém subverte o sistema com alguma dose de humor. No pequeno cemitério da povoação de Ibo, em Moçambique, uma sepultura executada a partir de uma janela pisca o olho a um satélite ao serviço do google earth.
ps. um agradecimento ao Pedro Nogueira que passou a mensagem.

10.18.2007

Impressões

A inscrição de uma acção no território implica uma marca e uma permanência.

Associado a essa marca está muitas vezes a certeza irrefutável da necessidade das acções e das marcas no território, e da sua relevância para o tempo em que foram inscritos como para os seguintes. No entanto, a perseverança desses sinais no território está simplesmente dependente da valorização que cada geração atribui aos sinais. Assim sendo é estranho assumir, como hoje se assume, que as certezas de hoje, são as mesmas de amanhã.

Na China, o hábito de escrever com um pincel e a água textos já muito se mistura com a demonstração de princípios culturais abastardada por um fim turístico. No entanto, ainda está presente a ideia a impermanência da certeza e do valor atribuído às impressões que cada um decide criar no território. A caligrafia - a marca - é volátil, preenche um propósito durante um curto momento. Depois a superfície recupera, com o tempo, a mesma disponibilidade que apresentava inicialmente.



Peço desculpa aos autores das imagens. Tenho acumulado estas imagens no disco e acabei por perder as origens.