11.30.2007

Ctrl_Arq_Del







Os estados de desespero no trabalho quotidiano de um arquitecto resolvem-se, nos casos mais simples, com botões de emergência.
'Ctrl Alt Del', utilizado na preservação da integridade física da máquina, expressa um grau bastante razoável de pânico do operador. O suficiente para este admirar estéticamente a tragédia consumada.

11.28.2007

Valpaços

Rotunda em Mogadouro

Numa iniciativa inédita, um dos paradigmas do urbanismo português é alvo de concurso pela Câmara Municipal de Valpaços.
Foi lançado no final do mês passado o concurso de ideias para "decoração" de 3 rotundas na referida povoação, no qual poderão participar arquitectos, arquitectos paisagistas ou artistas.
3 rotundas,
3 temas:
- emigrante
- vinha
- lavadeira
mãos à obra,
ou melhor,
mãos à rotunda!
mais informações: 1, 2 e 3.
inspiração aqui.

11.26.2007

ARCHFARM || 10 || november 07 || MOBILE


A nova ARCHFARM já está online. Desta vez é discutido a importância das infra-estruturas de circulação para a sobrevivência do espaço exterior às grandes cidades. Por Dominic Stevens.

11.23.2007

Nada 10


Novo número para a revista NADA:

. O Corpo e a Carne: Duplicidades Contemporâneas, JORGE LEANDRO ROSA
. A geração de 60/70, as metamorfoses da política e os dilemas da tecnociência, entrevista a JOSÉ LUÍS GARCIA por Helena Jerónimo e João Urbano
. Intersecções, confrontações, apropriações, incorporações, comparações, relações: A arte biológica vista do laboratório, LUÍS GRAÇA
. E o elevador irrompeu em direcção ao céu,atravessando as nuvens, rumo ao infinito…, SUSANA VENTURA
. Irene Izes, JOÃO OLIVEIRA
. Incontornável, A DASILVA O
. Estudos Culturais e Formas de Arte Pós-Moderna:Os Novos Movimentos Sociais?, BYRON KALDIS
. A Construcção Política da Esperança Colectiva, DANIEL INNERARITY
. O futuro começa agora, entrevista a RUDOLF BANNASCH por Paulo Urbano e João Urbano
. A Máquina Desejante de João César Monteiro SUSANA VIEGAS
. Birland & Balde de FACS, ADAM ZARETSKY
. Reflexões SILVA CARVALHO
. O Homem sem Bagagem JOÃO URBANO

11.19.2007

Implosão

Latitude: 38º47’N
Longitude:8º88’W

O seu paraíso de lazer num paraíso por explorar
Ruas congestionadas
Hora de ponta
O seu jardim
O seu estacionamento privado
O seu vizinho barulhento
Tardes aborrecidas
Restaurantes
Objectivos a atingir
Os seus filhos na rua o dia todo
Regresso a casa
À sua casa


Texto incluído aqui.

No dia 8 de Setembro de 2005, o primeiro-ministro José Sócrates e Belmiro de Azevedo, patrão da Sonae, accionavam de forma simbólica, o mecanismo de detonação que dava início à implosão das duas torres inacabadas do antigo complexo da Torralta, na península de Tróia.
Em rápidos segundos, as duas torres de 16 andares deixavam de existir e deixavam para trás um passado que envergonhava aqueles que percorriam a península entregue ao abandono. Marcos simbólicos da península, guardavam memórias e também morcegos, uma colónia rara, teimosa a atravessar a estrada para habitar o novo abrigo construído em prol da sua sobrevivência.
Olhos postos num futuro glorioso associado à construção de um casino, hotéis, apartamentos turísticos e campos de golfe a perder de vista.
O projecto assume uma nova dimensão quando equacionado em conjunto com a quantidade de propostas que se estendem ao longo da linha de costa alentejana que se prolonga até Sines, na sua maioria condomínios reservados a segundas habitações para quem procura no litoral um ponto de fuga ao stress da cidade.
O sentido de apropriação do território de maior fragilidade ecológica surge nos dias de hoje camuflado pela imposição de uma arquitectura de qualidade, quase sempre associada a aspectos relacionados com a conservação da natureza. Ao contrário das inúmeras atrocidades ambientais cometidas nos anos 80 e 90, criticadas pela maioria dos profissionais em causa, hoje, a presença de um autor ou de uma equipa de renome, arquitectos e arquitectos paisagistas, parece relativizar a susceptibilidade da paisagem a intervenções assépticas, cuja estética regrada mascara os impactes a longo prazo num território frágil e de difícil reequilíbrio.
Nas palavras de Belmiro de Azevedo a implosão das duas torres constituiu um acto de “destruição criativa”.
Implosão como sinónimo de destruição (criativa). Claro, porque não?

11.13.2007

Marc Augé

"O espaço do não-lugar não cria nem identidade singular, nem relação, mas solidão e semelhança."
AUGÉ, Marc, Não-lugares, 90 Graus Editora, 2005

MARC AUGÉ, antropólogo, estará em Lisboa para o lançamento da edição portuguesa do seu livro "Para Que Vivemos?".

15 de Novembro de 2007
às 18h30
Conversa com Professor José Rebelo
Instituto Franco-Português
Av. Luís Bívar, 91

16 de Novembro de 2007
às 14h30
Aula aberta
Faculdade de Arquitectura de Lisboa

11.12.2007

O terror na estrada. Mais uma perspectiva googliana.

A Norte de Évora, a estratégia de urbanização (que é o conceito que mais tem motivado a elaboração dos PDMs) providenciou o desenvolvimento de um plano de pormenor para a urbanização de um território maioritariamente ocupado por pequenas quintas de olivais, pomares e algumas culturas de sequeiro.
Para já apenas se fez a construção da estrutura viária que irá alimentar a urbanização. A determinado ponto dessa estrutura, existe uma rotunda, uma entre muitas aliás. Trata-se de um futuro nó rodoviário com um papel fundamental no desenvolvimento do plano. No entanto, surge momentaneamente autista no espaço. Apenas duas vias se encontram associadas a este nó mas foram já insinuadas os restantes eixos que ditarão a transformação do território.
Existem dois temas a desenvolver. O primeiro descreve o fenómeno das rotundas como um fenómeno social que é encabeçado por presidentes de autarquias e vereadores. Este fenómeno já vem de algum tempo, as rotundas surgiram associadas a uma ideia de «progresso». Um método rápido de trazer alguma «urbanidade» a localidades onde a estratégia de desenvolvimento económico nacional, regional e local, (ainda bastante ausente) não conseguiu trazer o progresso que populações pretendiam. No entanto, esta imagem transgrediu muito o conceito de “para-inglês-ver” e colmatou as necessidades de um novo-riquismo municipal ao qual estão associados fundos europeus encaminhados para o desenvolvimento regional.
Um segundo tema, mais engraçado, prende-se com o modo como esta rotunda, especificamente, constrói um futuro, ainda que desconhecido mas, e por isso mesmo, muito mais interessante. A rotunda, com estes dois cotos de vias, sempre levanta algumas questões. Todo o território fica agarrado, expectante, preso a uma incerteza. É talvez, a coisa mais bela nesta rotunda, a sua multiplicidade.

11.10.2007

Arthur Slenk

Em 1990, Arthur Slenk descobre duas caixas com partituras manuscritas junto a uma árvore perto de sua casa. Duma análise milimétrica do material encontrado, desenvolvido por uma orquestra amadora no período de 1872 a 1941, procede a uma reorganização do seu conteúdo. Notas musicais, siglas, números ou mesmo marcas, erros e imperfeições do papel são reagrupados segundo os critérios do artista holandês num trabalho minucioso desenvolvido ao longo de sete anos.
Diferentes combinações de vestígios do passado dão lugar a um novo presente.
Exposição Partituur patente na Casa da Cerca em Almada até 30 de Dezembro de 2007.

11.02.2007

O local de filmagens

Stalker é um filme de Andrei Tarkovsky de 1979. O filme pode ser dividido segundo dois critérios visuais: o primeiro, em tons sépia (porque o sépia suja todas as imagens, cobre de lama paredes, rostos, roupas) com planos da cidade onde Stalker vive; e o segundo, num deslumbrante poema às intensidades da natureza, agora já na interdita Zona. A Zona é um lugar contaminado, poluído pelos escombros da abandonada fábrica, o óleo é ainda visível na superfície da água ainda que peixes insistam em lá viver. Na Zona, a água inunda o terreno, ensopa a terra, predominando ainda na chuva, no rio, na cascata, no interior das casas, sempre a água, translúcida ainda que poluída. É um hábito de Stalker levar pessoas para a Zona a troco de algum dinheiro. Desta feita, conduz o Professor (ou a Ciência) e o Escritor (ou a Arte) para a Zona com o objectivo de alcançarem a sala da esperança onde os desejos se tornam realidade e de onde quase ninguém regressa.

Qual a origem do misticismo do lugar? No início do filme fala-se de um meteorito que caíra e destruíra a vila mas esse contacto alienígena, justificaria os processos de auto-conhecimento pelos quais os seus visitantes involuntariamente passam? A perigosidade de entrar na Zona é imensa e incalculável: a todo o instante mudam as armadilhas, muda a fisionomia do terreno, perigosidade avivada pelo facto de não se poder andar pelo caminho mais curto nem se poder voltar atrás. É verdade que há indícios do terreno mudar, mas também há indícios de tudo ser criação abusiva de Stalker, o único que conhece as regras da Zona. As outras personagens também duvidam e perguntam a Stalker como é que ele sabe que ali se podem realizar os desejos. Ele simplesmente sabe. A filmagem decorreu em parte na Estónia, perto de Tallin, num campo radioactivo, partículas químicas que terão alimentado a ideia de lugar como organismo vivo – que se desloca, que deseja, que engana, que respira e que dialoga com os humanos.

Os recursos cinematográficos de Tarkovsky concentram-se na imagem e nos actores: o zoom é extraordinariamente lento, os rostos devidamente enquadrados (as personagens surgem, surpreendentemente, pela parte inferior do enquadramento contrariando a perspectiva natural). Uma das vantagens de um realizador de cinema ser também ensaísta é contribuir para a sua própria interpretação. Assim, este filme, juntamente com Andrey Rublyov (1969) e Solyaris (1972), faz parte de um conjunto teórico escrito por Tarkovsky (Esculpir o Tempo, em tradução brasileira) sobre as possibilidades cinematográficas de representação directa do tempo. Como libertar o tempo (ou duração) da montagem (ou movimento)? Criando a imagem cinematográfica no próprio local de filmagens. É interessante afirmar que o local de filmagens seja tão criativo quanto o realizador ou os actores, como um interveniente do filme. Com Stalker, parece que esta afirmação ganha mais verdade. É o tempo que controla o ritmo, os lentos zooms, os rápidos travellings; o tempo é a duração de cada plano e o ritmo de cada movimento. Cabe ao realizador esculpir o tempo, dar-lhe forma, compreender a pressão do tempo no momento das filmagens.

Cada plano, nasce no local da filmagem e não na mesa de montagem porque a montagem, a reorganização artificial dos planos fixos, sem duração, não é fiel à matéria-prima do cinema: o tempo. Por este motivo, são poucos e longos os planos nos filmes de Tarkovsky, porque, idealmente, o tempo seria o único agente no cinema tornando o realizador o canal privilegiado de passagem dessa intensidade, intermediário que preserva a pureza da duração registada no local, a pressão da passagem do tempo. Stalker pertence ao lugar tanto como a aranha que lhe passa nos dedos. Na impossibilidade de mostrar a pressão do tempo em imagens fixas do filme, opto por mostrar em movimento porque só enquanto estão em movimento, estas imagens existem.