12.29.2007

Ilha de Ascensão

[fotógrafo desconhecido]

Na Ilha de Ascensão, no meio do Atlântico, aquando da sua ocupação pela marinha britânica no século 19, foi impermeabilizada uma imensa bacia hidrográfica de modo a conduzir as águas pluviais para um reservatório central. A partir deste ponto partia uma conduta que fornecia água potável às populações instaladas, mais abaixo, no sopé da montanha.

[fotógrafia da mysterra magazine]

Enquanto enfrento as inúmeras infiltrações que surgem de todas as paredes da nossa casa é curioso ter-me deparado com esta intervenção na ilha de Ascensão. Trata-se de um tipo de Water Harvesting – uma denominação que tem surgido com maior nitidez devido às alterações climáticas cada vez mais evidentes. São processos de captação de água das chuvas e acumulação em reservatórios ou encaminhamento das águas directamente para o ponto onde o recurso é necessário.

A água e a sua interacção com os restantes elementos é, provavelmente a maior condição de transformação da paisagem. Populações desenvolvem, no contacto quotidiano com as condições dos locais onde vivem, técnicas que permitem a sua sobrevivência trabalhando a maior ou menor presença da água no seu território.

O homem no seu reposicionamento no território estabelece-se tendo por base essa procura quer implementado pequenas infra-estruturas que permitem captar água ou retê-las em determinado momento do seu ciclo, ou estruturas que transportam água ao longo de quilómetros cruzando topografias adversas ou simplesmente pequenas levadas que permitem o proveito de alguma ribeira.

12.18.2007

Pecha Kucha Night Lisbon. Vol. 3



Hoje já vai um pouco tarde. Mas ficam os links e a promessa de que seremos mais atentos e expeditos a anunciar os próximos volumes.

Pecha Kucha Night
Pecha kucha Night Lisbon


Volume 3

12.13.2007

Voltas

"La construcción aparece asomada a la orilla del mar, como las estaciones a la orilla de la línea del tren hacia el norte de Chile, donde luego de haber caído en desuso ha permanecido sólo lo sólido. Todo lo "perecible" ha sucumbido al saqueo y al tiempo. Contenedores vaciados de todo, con sus solas perforaciones rectangulares en los muros, repartidos a lo largo de una línea imaginaria.El proyecto se abordó autónomamente del emplazamiento específico y se optó por disgregar el programa separando dormitorios, comedor-cocina y estar de manera de asegurar total independencia entre ellos. Se diseñaron tes contenedores monolíticos en hormigón armado con un régimen de perforaciones que asegurase versatilidad de emplazamiento y asociación entre los volúmenes, que no estaban pre-determinados."

Pensamento às voltas com a volta que esta casa dá.
Projecto de Cecilia Puga, Los Vilos, Chile, 2001/2002.

Não há ordem na natureza

(...) Frederich alertara desde cedo os filhos para o outro momento da natureza, o momento em que a natureza se torna guerreira - «só aí vale a pena tirar fotografias», dizia. Nesses momentos – numa tempestade, por exemplo – em que as mudanças rápidas substituem a mudança lenta, vem à superfície a incompatibilidade moral, utilize-se esta palavra, entre o sistema dos homens e o sistema da natureza. No limite: o que era crime de um lado não era crime do outro.
E por isso, defendia Frederich, é que a natureza com que se convivia nos dias comuns, nos «dias fracos», enganava.
E o engano era este: num dia de sol, pacífico, abria-se a janela e olhava-se para o que lá fora não fora feito pela inteligência do homem com a benevolência com que se olha para um conjunto de quadros dispostos nas paredes de um museu. O erro, precisamente, era ver a natureza semelhante a um museu que cresce. Museu cujas peças mudam de posição de modo quase imperceptível, parecendo fruto da timidez ou simplesmente da fraqueza desses elementos. Nos dias em que o que não era humano podia ser retalhado em pedaços, copiando a divisão de uma máquina nas suas partes, nesses dias, nos quais o homem poderia orgulhar-se de limpar os sapatos ao mundo que existira antes de si, a natureza era realmente um museu.
No entanto, por vezes as peças do museu mostravam, afinal, que eram peças de uma artilharia secreta e que apenas haviam guardado o momento propício para se reorganizarem com outros objectivos. E assim, de repente, aquilo que parecia ter sido feito para um fim: a contemplação – os homens precisavam de cinema e a natureza parecia ser o filme que Deus escolhera para passar ininterruptamente em frente dos seus olhos –, aquilo que parecia poder ser enfrentado com uma atitude relaxada, o pôr do sol e a neve, aquilo enfim que parecia apenas um aliado mais fraco, transformava-se, em breves instantes, no mais forte dos inimigos.
(…) Em suma: nada era entendido pelos homens que se defendiam. E daí a manifesta posição de fragilidade à natureza indisposta.

Excerto de texto incluído em “Aprender a rezar na Era da Técnica”, Gonçalo M. Tavares, Caminho 2007.
Imagens retiradas daqui.

12.01.2007

Don't Come Knocking

Já se passaram vinte anos desde a última colaboração entre Wim Wenders e Sam Shepard com Paris, Texas (1984), mas o tom mantém-se. Don't come knocking é, provavelmente, um dos filmes mais simples de Wenders, uma sedimentação da sua própria imagem da América, e um dos argumentos mais típicos de Shepard. Este, enquanto escritor e actor, consegue a paradoxal harmonia entre o intelectual, o contador de histórias de solidão e abandono, das memórias de infância, da vida em motéis, e a presença rural, as mãos ásperas, as rugas vincadas, os dentes tortos, sempre numa atitude isenta de artifícios. Também ele faz parte da paisagem humana que retrata, o fim do mítico oeste selvagem americano.