11.30.2009

Cinema na Revista Drama


Na primeira longa-metragem que realizou, O Fantasma, em 2000, João Pedro Rodrigues (n.1966) provou ser capaz de fazer um tipo de cinema divergente no cinema português – o cinema corporal. (ler mais)

Drama, Revista de Cinema e Teatro nº1, Setembro 2009.

Além de João Pedro Rodrigues, textos sobre Oliveira, Canijo, Aguilar, Kaufman etc.

11.14.2009

1000 árvores para Monsanto


No próximo dia 21 de Novembro às 10.00h vão ser plantadas 1000 árvores num terreno em Monsanto - saibam tudo em:


http://www.plantarumaarvore.org/

11.11.2009

Ribeira das Naus

Imagem cedida por Global e Proap
O consórcio é constituído por dois ateliers de arquitectura paisagista, a Global e a Proap, em conjunto com a Consulmar. O projecto é a Elaboração do Projecto de Execução do Espaço Público da Ribeira das Naus, na Frente Ribeirinha da Baixa Pombalina. O projecto é encomendado pela Sociedade Frente Tejo, S.A.. A apresentação pública é na próxima quinta-feira às18.30 no átrio do Ministério das Finanças. No átrio, além da exposição do projecto da Ribeiras das Naus, está também exposto os projectos da Praça do Comércio, e do Museu dos Coches.

O projecto redesenha parte da margem, o único troço entre Algés e a Expo que, com a Praça do Comércio, onde o Tejo ainda está directamente disponível à cidade, sem o Porto de Lisboa ou linha de combóio. Apesar de todas as transformações e de tempos, políticas e ideais, manteve-se, até aos anos quarenta, como estaleiro naval. A partir da abertura da ligação viária entre o Cais do Sodré e a Praça do Comércio, o espaço, agora dividido entre a Marinha e a cidade, esteve praticamente esquecido.

O projecto reactiva o espaço, apropria-se das âncoras históricas existentes dá-lhes um novo sentido, uma nova função. Outros elementos são revelados para construir uma nova forma de conviver com o Tejo e de estar na cidade. E os novos elementos introduzidos apresentam alternativas para a relação de Lisboa com o Tejo e com as suas dinâmicas.

A memória descritiva do Estudo Prévio:
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O Lugar mítico
O espaço da Ribeira das Naus é um espaço mítico na identidade nacional e local. Em parte produzido pelo imaginário colectivo, em parte pela cultura oficial. O mito está ligado à fábrica naval que operou de facto neste lugar, e que terá produzido ao longo de séculos, embarcações de diversos tipos. O mito articula a certeza da produção das Naus, com a possibilidade de estas terem sido protagonistas do movimento de descoberta de rotas universais, e de um primeiro fenómeno de globalização impulsionado por Portugal. De lugar prático de laboração a espaço mítico de relação com um universo longínquo, global e universal, a Ribeira das Naus é um espaço sempre articulado no tempo, com o outro espaço irmão sempre relacionado com a representação do poder: o Terreiro do Paço, hoje Praça do Comércio. Um poderosíssimo e devastador conjunto de fenómenos naturais destruiu a Cidade parcialmente, afectando totalmente a Ribeira de Lisboa como lugar. A sua reconstrução manteve curiosamente a vocação e a configuração de alguns elementos como a doca do arsenal, as rampas varadouro ou as docas secas. Lugar/Local e Lugar/Global em simultâneo. Mas hoje aonde está presente o carácter complexo que discutimos atrás? Que significado tem a actual configuração deste lugar? E que outros elementos, hoje invisíveis, poderemos convocar e recentrar na conformação e experiência deste Lugar?

Imagem cedida por Global e Proap

O Lugar misterioso da relação com a memória
A estratificação como conceito tectónico originado pela Geologia ajuda-nos a compreender a forma como a Cidade se reconstrói sucessivamente sobre si própria. Por vezes preserva de maneira aparentemente inexplicável formas precedentes, que só a partir da revelação de uma maior extensão se tornam compreensíveis. Na Ribeira das Naus temos hoje sinais de diversos tempos: uns directamente experienciáveis, outros apenas presentes pela abundante iconografia e cartografia que os tornam inteligíveis, e pelas ocasionais revelações em cada escavação para uma qualquer instalação ou infra-estrutura. É a partir da tensão entre os diversos elementos presentes (conjunto edificado, doca seca) com os diversos estratos geometricamente negativos em relação à cota de superfície actual (doca do Arsenal, paredões de varadouro) que se configura o desenho proposto. A revelação e a integração destes elementos fósseis, parcialmente enterrados e potencialmente determinantes do carácter do espaço, constituem o processo de recriação da Ribeira das Naus. A arquitectura deste espaço da Paisagem da Margem de Lisboa consiste então na contraposição de elementos fosseis com elementos contemporâneos, com o duplo sentido de revelação dos diversos tempos do mesmo lugar (cultura do espaço da cidade) e de acção na utilização do espaço público (circulação, permanência, contemplação, infra-estrutura). Mas se a revelação dos estratos temporais justapostos no espaço, parece ser uma oportunidade única de criar em Lisboa um lugar vibrante, que experiência existencial nos poderá proporcionar?


Imagem cedida por Global e Proap

A Ribeira das Naus como contemplação atemporal
Norberg-Schulz fala-nos do carácter material e espacial de um Lugar, como determinantes da sua identidade. A proposta para a Ribeira das Naus apresenta a opção radical de recortar a linha de costa no sítio da Doca do Arsenal tangencial ao Torreão Poente, e determinar com precisão um novo alinhamento de margem até ao Cais do Sodré, reconfigurando a linha de Costa num sentido integral. O Torreão aparecerá espelhado no novo plano de água do rio que o separa da plataforma da Ribeira das Naus. Esta plataforma, que contem o artefacto da Doca seca agora totalmente exposta, revela os novos dois planos descendentes ao rio, que materializam o lugar das rampas de varadouro, agora apropriados por planos de relva e madeira contemplativos. O limite original da linha de costa é transposto e materializado pela extensa superfície negra e basáltica que faz significar a superfície de margem acrescida e em continuidade material com as ruas, largos e travessas imediatas. Ao atingir o alinhamento marginal, desce suavemente em lâminas pétreas, como uma praia artifi cialcontida pelos dois pontões. Um, a nascente, prolonga o muro lateral da doca do Arsenal, enquanto outro, a poente, prolonga o espaço vazio do largo do Corpo Santo, determinado em oposição pela massa dos alinhamentos de árvores sobre o Rio. Nesta superfície negra que nos absorve, atravessa o transito de viaturas, bicicletas e peões, separados por sinais de pedra ou madeira que definirão direcções, canais de passagem, ou superfícies partilhadas. O acesso entre a Ribeira das Naus e a Praça do Comércio é agora marcado como que por um ritual de atravessamento da água, por uma ponte. Fabricada com metal e madeira com a transparência própria destas estruturas, permite-nos olhar para baixo e contemplar a água, os antigos muros de pedra incrustados no dique de maré que acolhe as enormes condutas que coincidem a várias alturas algumas expostas e suspensas na própria estrutura da ponte. A delicadeza da nova articulação urbana demonstra a clara diferença entre os dois espaços irmãos, que nos fazem significar de diferente forma o espaço do Poder e da Fábrica, agora entregues aos nossos rituais de passagem diária ou ocasional, individual ou em colectivo.
A luz invade os espaços diversos, percorre-os de diferentes formas ao longo dos dias e ao longo do ano, distribuindo sombras das árvores, refl exos ou planos de luz intensa ou muito suave, envolvendo-nos em muito mais do que o simples atravessamento diário. Imaginamos que poderemos agora descer até ao Rio, ou mesmo caminhar na praia que as marés põem ciclicamente a descoberto até subir a escadaria entre as colunas, e subitamente nos depararmos com a Praça monumental com o seu Castelo elevado contra o céu.

11.05.2009

J'ai une toute petite ligne de chance

Em Pierrot, le fou (1965) Jean-Luc Godard ilustra o que parece ser um género cinematográfico francês, o filme ‘bal(l)ade’, conceito intraduzível e que consegue conjugar o passeio (balade) com a canção (ballade) anexando, deste modo, o musical à deambulação das personagens. Hoje, é um filme-chave para se compreender outros filmes mais recentes como On connaît la chanson (1997) de Alain Resnais e Les chanson d'amour (2007) de Christophe Honoré de 2007. Em Pierrot, le fou, Ferdinand Griffon (Jean-Paul Belmondo) está casado com Maria (Graziella Galvani), uma herdeira rica, mas o casal não se entende. Um dia conhece uma baby-sitter, Marianne (Anna Karina) e juntos acabam envolvidos num assassinato e tráfico de armas e, tendo que fugir à polícia, atravessam a França dirigindo-se para Sul. O filme de Godard é uma paródia aos modelos americanos como o film noir, os dramas e os musicais clássicos de Hollywood com a particularidade de as personagens, vigaristas com vocação intelectual, se aborrecerem facilmente. Terminam a viagem, e o filme, na ilha de Porquerolles inserida no Parc National de Port-Cros. E Karina e Belmondo cantam ‘Ma ligne de chance’ : a vida corre mal mas é bela.