6.30.2006

Aquário

Miguel Palma coloca um aquário com um peixe vermelho à superfície de água de um lago.
O peixe aprisionado comunica visualmente com outros peixes que se aproximam, mas não participa espacialmente na convivência com os seus semelhantes. O vidro translúcido permite-lhe observar mas priva-o do essencial – uma vivência.
Uma barreira física perversa, este limite que separa águas. Mostra ao peixe aquilo que ele tanto ambiciona, mas engana-o ao confiná-lo a um abrigo estéril. Protegido, vê de longe o fundo do lago e também predadores que o espreitam mas que nunca poderão participar dos seus medos.

“Aquário” de Miguel Palma, 1996

6.19.2006

Verdete em Florença


6.09.2006

Münster 2007


Jorge Pardo: Pier (1997)

Na cidade de Münster em 1977 (e novamente em 1987 e 1997) ocorreu o primeiro Skulptur Projekte revolucionando o nosso modo de encarar a cidade como anonimato espacial e o museu como espaço fechado e sagrado. Neste cidade a arte deixa de estar encerrada entre paredes para integrar a paisagem citadina através de esculturas de diversos artistas que espelham diferentes interpretações sociais, culturais e históricas. É uma forma de esculpir a paisagem numa escala mais abrangente (escala esta que pode levar a algumas críticas sobre a impossibilidade de fruição estética entre o barulho e o movimento incansável que marcam o ritmo na cidade). No entanto, trata-se de uma mudança formidável: o de tornar pública a arte inserida no dia-a-dia, no quotidiano, descontextualizando os objectos artísticos e reavaliando o carácter intocável destas esculturas. O objecto de arte valioso sai à rua e está acessível sem se tornar, no entanto, um objecto decorativo. Trata-se de um novo conceito de museu e do próprio objecto de arte que combina, deste modo, duas revoluções: do espaço museológico outdoors e da cidade como paisagem artística.

Nam June Paik: 32 cars for the 20th century: play Mozart's Requiem quietly (1997)

Rebecca Horn:The contrary concert (1987)

Em 2007 realiza-se o 4ª encontro deste projecto.

A ler: Idalina Saldanha, “Em Münster: Museu Envolvente” in Arte e Pedagogia, Celta, 2006;

Na net


6.06.2006

Piscinas

Desenhar uma piscina torna-se nos dias que correm uma tarefa árdua, no sentido de desvincular o cliente da ideia pré-concebida do formato “rim” que abraça uma constelação de palmeiras para, numa síntese formal, reduzi-la ao essencial.
Querem-se piscinas longilíneas assentes sobre uma plataforma em pedra ou, em situações menos felizes, sobre deck de madeira, desdobrada a partir de um alçado da casa branca, sobre o qual reflectem os movimentos da água em dias de vento. O remate reduzido ao mínimo é essencial na sua integração, com o nível da água, sempre que possível, à cota do pavimento. Por vezes, adoptam-se telas que as camuflam no inverno, inibindo a sua capacidade de assimilação das especificidades de uma estação. Varrem-se as folhas da superfície inócua e anula-se a passagem do tempo.
No filme “O Pântano” de Lucretia Martel (La Ciénaga, 2001), uma piscina numa casa de campo nos arredores de Buenos Aires, serve de palco a uma série de actividades improváveis nos dias de hoje. Em redor da superfície de água, fazem-se almoços, conversa-se ao sol, bebe-se vinho, molham-se os pés. Os mais novos flutuam deitados em bóias improvisadas ou saltam e fazem “bombas” - infância. A água multiplica-se em salpicos e molha os mais distraídos que olham o sol filtrado pelas lentes dos óculos escuros. As folhas derivam à superfície sobre um lençol de água suja que teima em perdurar até ao início do Outono.
Tenho saudades das tardes de verão passadas com amigos dentro do tanque de rega dos avós, caixa caiada de branco erguida entre as laranjeiras no meio da horta, com limos no fundo e carpas vermelhas trazidas num balde de um açude próximo num dia de pesca.
Pesa-me a consciência.