6.24.2007

Intrusão | Permanência

intrusão, s.f. Acto de introduzir-se (com astúcia ou violência). Usurpação. Posse Ilegal.
intruso, adj. Que por manha ou violência se introduziu ou foi introduzido. S. m. Usurpador. Que se dá por convidado.

Nem sempre o dicionário nos oferece as coordenadas daquilo que pretendemos demonstrar.
A paisagem que temos é aquela que construímos. Longe vão os tempos em que nos deparávamos com fragmentos de natureza virgem, ainda por esculpir. Hoje, a paisagem
com que nos confrontamos resulta de uma sobreposição de camadas, layers que justapostas revelam tempos recentes ou, pelo contrário, o abandono da sua condição actual num regresso às origens. O Homem, o elemento manipulador. A natureza, o elemento controlado, cuja capacidade de regeneração depende essencialmente do factor tempo e do homem, elemento catalizador de mudanças.
Num percurso de acesso à Lagoa de Albufeira, a presença de um tanque ou poço (não sabemos) em betão causa alguma estranheza para quem o vê abandonado à mercê de uma paisagem cujo uso actual não corresponde ao de outrora. A linha de água denunciada pela morfologia e vegetação envolvente pressupõe um anterior uso agrícola, marco de tempos idos em que a agricultura definia os contornos de ocupação do território propício a tal. No fundo do elemento construído, a vegetação embebida em água denuncia a proximidade do lençol freático.
Hoje, a presença do tanque adquire novos contornos, quando afastado da sua função inicial. Denuncia uma anterior ocupação mas revela-se simultaneamente um elemento estranho, ao abandono, numa paisagem que parece voltar atrás na sua afirmação.
O tempo e a eventualidade de um retorno ao passado ditará a sua futura condição. Intrusão ou permanência.
Permanência, s. f. Acto de permanecer. Estado de permanente. Estabilidade, duração firme, constância, perserverança. - Em Permanência, sem ausência nem interrupção.

6.20.2007

Irlanda na Trienal

A exposição Países da trienal de arquitectura de Lisboa, deu origem às mais diferentes abordagens sobre o tema dos vazios urbanos, entre as quais a de como encher o vazio de apenas alguns metros quadrados com milhares de projectos indecifráveis (Espanha p.ex.).
A representação da Irlanda (cur.Peter Cody e Peter Carroll) responde ao tema reflectindo sobre um fenómeno crescente nas cidades do planeta, as shrinking cities, cidades cujo tecido urbano, por uma razão ou outra, se começa a esboroar, mesmo que se expandam em novos subúrbios, infra-estruturas e pólos tecnológicos. O exemplo mais citado é o da cidade de Detroit, a Motown de Marvin Gaye, nos USA, onde o antigo central business district é agora uma manta de retalhos de prédios abandonados, agricultura doméstica e habitações e vidas precárias.


Dublin, a capital da Irlanda, foi o local onde foram escolhidos projectos que mais ou menos respondem a este problema. Um dos projectos apresentados é o de Ballymun, bairro social construído entre 1964 e 1969, com 2820 apartamentos em torres pré-fabricadas, espalhadas de modo disperso sobre o verde irlandês. Com o tempo a população que conseguia singrar na vida mudou-se para outras paragens, cumprindo o sonho do minifundiário com seu pequeno quinhão. Ficaram os desempregados e novos inquilinos em situações não menos precárias. Em 97, a câmara de Dublin, formou uma sociedade com o intuito de regenerar esta área da cidade. A relação cheio-vazio foi invertida, com a construção de novas habitações para realojamento dos moradores e venda de novos apartamentos, e criação de vários centros cívicos e comerciais, e um pólo industrial. Os antigos prédios foi demolidos dando origem aos novos espaços vazios consolidados.
ver
http://www.linetosurface.org/
http://www.newballymun.com/
http://www.brl.ie/

6.18.2007

Arquitecto Tati

Mon Oncle (1958)
Imersos no mundo da técnica, é refrescante constatar a actualidade dos filmes de Jacques Tati, arquitecto do mundo moderno, crítico do quotidiano asséptico do design regido pela cópia industrializada e por botões com mil e uma funções. Ali mesmo ao lado do que resta de uma vila, um espaço caótico e envelhecido com carácter suficiente para a casa (parece inspirada em Escher) de Monsieur Hulot. Como banda sonora, o zumbido dos motores dos aparelhos de ar condicionado. Ironicamente, as janelas em forma de vigias dão à casa uma forma humana.