12.29.2005

Superfície e Comportamento

Topotek 1, sediado em Berlin, é, actualmente, um dos ateliers mais interessantes da Alemanha. O atelier, com cerca de 19 pessoas, foi fundado por Martin Rein-Cano e Lorenz Dexler em meados da década de 90. Dos projectos mais falados da autoria da Topotek 1 contam-se os 17 ha do Parque Pós-Industrial de Eberswalde em Brandenburg (2002) e o parque do Castelo de Wolfsburg em Niedersachesen (2004). Existem, no entanto, três projectos em Berlin que levantam algumas questões bastante interessantes.


Berlin-Mitte (fotografias de Hanns Joosten)

O primeiro é um logradouro sobre o estacionamento subterrâneo de um edifício de escritórios em Berlin-Mitte (2000), o segundo, provavelmente o mais conhecido, é um parque de estacionamento em Berlin-Marzahn (1998) e o terceiro é um campo de jogos urbano em Berlin-Charlottenburg (2002). Os três projectos são constituídos por um pavimento inerte e estável (o asfalto no primeiro e no segundo e um laminado de plástico com superfície sintética no terceiro) onde são inscritos linhas, manchas e números a branco, amarelo e vermelho desenhados segundo uma qualquer ordem definida.


Berlin-Marzahn (fotografias de Hanns Joosten)

Em Mitte, o logradouro deveria ser usado como entrada ao edifício, como acesso ao estacionamento subterrâneo, como zona de cargas-e-descargas e como espaço intermediário entre os novos edifícios de escritórios e os edifícios históricos adjacentes. Em Marzahn, o estacionamento e o acto de estacionar manipulam todo o discurso do desenho do espaço. O terceiro é um campo de jogos perto da linha do metro de superfície, escavado a 1.5m da superfície. As reduzidas dimensões deste campo impediam a demarcação das linhas normalizadas dos jogos mais convencionais. Assim, o espaço pedia que fossem criadas outras linhas que estimulassem novas regras para novos jogos.


Berlin-Charlottenburg (fotografias de Hanns Joosten)

Nos três projectos, o pavimento serve como suporte, como uma superfície homogénea que se encontra disponível para ser apropriada, desenhada e redesenhada segundo as necessidades, como um quadro de ardósia ou como uma tela. Por sua vez, o desenho inscrito sobre a superfície define movimentos e circulações (automóveis e pedonais), estacionamentos, contornos, delimitações sem nunca os expressar completamente. Desta forma, é incutido na superfície uma caligrafia que é lida pelo utilizador. Este, ao entrar no espaço, descodifica os sinais e comporta-se consoante a sua interpretação. Nas palavras dos seus autores: o real e o imaginário são as coordenadas de um sistema que une as ideias ao espaço (in A+T: In Common 1, Primavera 2005, nº25) . A escrita delineada à superfície permite projectar uma imagem e constituir um diálogo; da leitura resulta uma interpretação e uma consequente forma de agir. Martin Rein-Cano associa esta superfície a um mapa ou a uma cartografia que é apresentada e tornada disponível ao utilizador. Os utilizadores e os objectos colocados por eles definem as relações tridimensionais. Simultaneamente, o espaço adquire a temporalidade e a imprevisibilidade dessas utilizações. Consequentemente, as acções que ocorrem sobre a superfície tornam-se elas próprias em sinais das interpretações que eles fizeram, e largam para o observador nas janelas dos escritórios em Mitte, na estrada e passeios adjacentes ao estacionamento e na janela do metro quando passa ao lado do campo de jogos, as premissas para uma outra leitura, um outro diálogo.

12.21.2005

Verdete em Discurso

O discurso deste blog é constituído por intervenções que são da responsabilidade de cada autor e não estão, de qualquer maneira, vinculados a uma lei unificadora que possa reduzir a multiplicidade de discursos. Pretende-se, assim, contribuir para a construção de um discurso sobre paisagem uno e múltiplo, ordenado e, por vezes, desordenado, simbiótico e antagónico, claramente aberto mas levianamente fechado.

O Verdete

Após algumas semanas de discussão e de pousio, o nome Verdete assolou-nos de tal modo a mente que qualquer outro nome que surgisse era logo posto de lado por não conseguir preencher tudo aquilo que o nome verdete consegue incutir num blog sobre paisagem. Verdete, o mesmo que prolifera nas nossas estátuas de cobre e nas moedas de cobre, é também designado por Acetato de Cobre, aliás, [Cu(CH3COO)2·2Cu(OH)2]. A paisagem é demasiadas vezes associada ao 'verde', às plantinhas ou a imagens pitorescas, idílicas. Verdete questiona esse pressuposto. Verdete é um pigmento verde que resulta de reacções químicas provocadas pela atmosfera, pelo clima e pelas acções humanas sobre uma dada superfície de suporte – o cobre. De vegetal, o acetato de cobre não tem nada, excepto a cor associado à maior parte das plantas. No entanto, a sua formação resulta de alguns dos mesmos processos que transformam o território moldando aquilo que comummente se designa por paisagem.

O Verdete, em amplo discurso sobre a paisagem hoje iniciado, procurará questionar os estereótipos e as ideias pré-estabelecidas que teimam em persistir sobre a paisagem, contribuir para um discurso crítico sobre paisagem e sobre arquitectura paisagista e falar de paisagem no seu sentido mais abrangente, ou seja, nos processos, nas organizações, nos sistemas que definem a paisagem ao longo do tempo e, consequentemente, do quotidiano em que habitamos.