4.22.2007

sangue

Parece que nem só os homens sangram quando lhe suprimem os membros. Algumas árvores* também, reclamando a sua condição de ser vivo.
*corte de exemplares de Tipuana tipu na avenida principal de Almada.

4.09.2007

Já chegou às livrarias a NADA nº 9 com especial destaque (e sem querer desvalorizar os outros textos que marcam pela qualidade) para a entrevista a João Tabarra, agora com duas exposições em simultâneo e complementares na ZDB e na Galeria Graça Brandão, e ainda para o texto de André Favilla sobre arte computacional:
.DANIEL INNERARITY: Pensar a ordem e a desordem: uma poética da excepção.
.Entrevista a ROY ASCOTT por João Urbano e Gonçalo Furtado: Da consciência quântica aos mundos paralelos tecnoxamânicos.
.ANDRÉ FAVILLA: Nova tecnologias, velhas ideias: Notas para uma genealogia da arte computacional.
.SILVA CARVALHO: O Livro Porético.
.Entrevista a JOÃO TABARRA por João Maria Gusmão e João Urbano : Desaparecimento, Falha e Êxodo.
.JENS HAUSER : A Biotecnologia como Medialidade – Estratégias da Media Art Orgânica.
.Entrevista a HUGO LIU por Paulo Urbano: Da Programação do Inconsciente às Tecnologias Estéticas.
.MARTA DE MENEZES: Decon: Desconstrução, Descontaminação, Decomposição.
.SUSANA VIEGAS: Três Filmes Cerebrais para Gilles Deleuze.
.JOÃO URBANO: A Tempestade.
.MARTHA RAMIRÊZ-GALVÉZ: Our machines/ our selfs. Corpos fragmentados e domesticados na reprodução assistida.

4.08.2007

Titanic

Inocência
Cada vez que se metia no cacilheiro (todos os dias) a senhora Inocência de Jesus pensava no Titanic. E só a firme convicção de que o Titanic era um paquete de milionários e o cacilheiro um vai-vem de tesos é que lhe evitava o enjoo (e maiores aflições). Se por acaso tinha companhia na travessia do Tejo não deixava ela de compartilhar a sua apreensão e o seu alívio, dada a diferença abissal entre os exemplos citados e a sua opinião de que a História não se repete. Com o correr dos anos chegou a sentar-se longe das bóias e dos coletes de salvação espalhados pelo barco. De si para si dizia que a sorte protege os audazes. Numa terça-feira de temporal, chegada ao Terreiro do Paço com o credo na boca, Inocência de Jesus viu num cabeçalho de jornal que tinham sido recuperados restos do Titanic. De tal modo a notícia a baralhou que escorregou no passeio e estrondosamente partiu o osso da bacia (cada um é para o que nasce).

Conto de Alface, incluído no livro " Cuidado Com os Rapazes" - Assírio & Alvim, 1995.

Alface, ou João Alfacinha da Silva faleceu no passado dia 2 de março de 2007.

4.04.2007

peter_sloterdijk


As passagens, para Walter Benjamin, eram o lugar onde a modernidade, na sua forma essencial, foi concebida. Porque a forma do mundo moderno não é a imensidade do mundo. é, pelo contrário, o espaço interior para onde se transporta o mundo. Na medida em que as estruturas dos paraísos artificiais aumentam, a política torna-se nada mais do que a arte de climatizar o «palácio de cristal». Percebemos, assim, a relação entre essa concepção lírica do espaço, em Rilke, e o espaço benjaminiano, isto é: o interior em busca da sua própria totalização e a abolição do exterior. Este é o sonho mais profundo da arquitectura do capitalismo, como se pode ver nos centros comerciais. No japão, integrou-se mesmo pistas de ski em salas enormes e construíram-se praias atlânticas sob uma enorme cúpula. A lógica da abolição do exterior é inerente ao capitalismo, na medida em que o capitalismo compreendeu que não busca a aventura mas a segurança. O exterior não lhe interessa e deixa-o àqueles que são suficientemente pobres e miseráveis. O exterior é para os africanos, para muitos latino-americanos, para os jovens que fazem um arrastão para pilhar os turistas nas praias de Portugal.

Peter Sloterdijk entrevistado por António Guerreiro para o suplemento Actual do Expresso de 24 de Março
http://www.petersloterdijk.net/