8.29.2007

Clareiras para Linces

Abrir clareiras parece ter sido das primeiras operações humanas exercidas sobre o território. Estas clareiras seriam abertas de preferência com fogo, na floresta inexpugnável. Ao retirar os estratos arbóreos e arbustivos, o Homem estava a abrir caminho à possibilidade de plantar e semear plantas herbáceas pioneiras que forneciam alimento anualmente a si mesmo e ao gado. O processo inverso, o de florestar, apareceu mais tarde, com o objectivo de proteger os avanços do mar, fornecer lenha para os mais diversos fins – construção, aquecimento, papel - ou por razões ideológicas.A Serra da Malcata pode testemunhar esses processos todos: Depois de um sistema de pastorícia extensivo, veio a intenção nos anos 80 de florestar toda aquela região com eucalipto. Esta intenção iria impossibilitar a existência de um habitat essencial para uma espécie em vias de extinção – o lince ibérico, cuja presença apenas se deduzia. Depois da Reserva Natural criada, voltaram-se a abrir clareiras nos matos entretanto crescidos. Estas clareiras que se assemelham a campos de golfe são semeadas com prado e foram abertas para ajudar à proliferação do coelho-bravo, o prato preferido daquele felino.

8.07.2007

Miguel Palma

Sementeira, 2006.
Dispositivo de aparência bélica construído a partir de alfaias agrícolas e que dispara projécteis carregados de sementes. Ou seja, é um canhão com um ADN agrícola que semeia de forma diferente e permite o cultivo em áreas desertificadas por fogos e de difícil acesso.

Cenário 1 e 2 , 2005.
Maqueta arquitectónica, com edifícios dos anos 80 situados ao longo de uma avenida iluminada. A existência de um espelho permite observar a realidade que se esconde para lá das fachadas dos prédios.

Massa Verde, 2005.
Uma massa de cor verde ocupa uma urbanização de Lisboa, transgredindo a arquitectura de cor salmão que se ergue.

2,5 km a 100 à hora, 2001.
Pista de automobilismo eléctrica com 4 vias de 80 metros de perímetro com automóvel da marca e modelo Seat 600 a circular. A escala é de 1:32 e a velocidade de100 Km por hora é realizada 32 vezes mais devagar.

Nas palavras de Sandra Vieira Jürgens, "em Miguel Palma a consciência ecológica ganha expressão por referências reiteradas a uma vivência que se afasta progressivamente do plano natural. Mesmo na incerteza dos tempos perdura a convicção de que sendo o homem vítima de muitas catástrofes, a passividade deixou há muito de ser a sua forma de estar no mundo. Vítima, ele é também autor de fatalidades que não o demovem do rumo. Afinal a iniciativa humana traçou projectos de estar no mundo, pensou o curso do mundo, delineou avanços, planeou a associação com a máquina, com o intuito de se mover mais depressa, sem ignorar o que tudo isso poderia significar em termos da distância que separa a existência do plano natural. A fuga deve ser rápida." (in Miguel Palma, ADIAC 2005)

Até ao próximo dia 2 de Setembro é possível encontrar onze objectos e instalações de Miguel Palma na Culturgest, numa exposição intitulada Miguel Palma, O Mundo às avessas.

Imagens e respectivos textos retiradas do site do artista.
Apenas a última obra apresentada é contemplada na presente
exposição.