Ruínas

Ruínas, o último filme de Manuel Mozos é, contrariamente ao que o título possa sugerir, um enorme voto de confiança no futuro do cinema. O filme surge esteticamente na linhagem de outros filmes sobre a morte – parece mesmo que a necrofilia é o tema do cinema português – mas ganha aqui contornos mais interessantes, ou pelo menos mais românticos, de uma verdadeira necrofilia melancólica. Mas, além do tratamento visual ser uma viragem significativa, significante é também o facto de Mozos dirigir toda a nossa atenção para 'falsas' naturezas-mortas: os locais em ruínas.
Construído unicamente com imagens dos locais abandonados (edifícios, hotéis, pedreiras, fábricas, sanatórios, teatros, estações de comboios) consegue, ainda assim, criar uma narrativa de um Portugal no pretérito e de hábitos irremediavelmente antiquados. Mas, este abandono não tem aqui indícios de saudade por um passado que não retornará mas antes dá a compreender a simples e esmagadora passagem das coisas. Através dos diversos esqueletos ou dos diferentes estados de danificação compreendemos que a sua impossível recuperação física se deve, acima de tudo, à impotência em controlarmos a direcção do tempo. A transitoriedade nos espaços vividos é exposta em conjunto com uma voz off que dá conta de um tempo que foi, de vivências que preenchem o vazio dos lugares.
Sem procurar razões para o abandono ou deslocação das vivências e dos interesses mas alicerçado unicamente no sem-sentido que aqueles lugares agora têm enquanto vestígios de locais habitados, Mozos põe em marcha o grande poder do cinema – dar vida ao que já morreu. O filme começa no cemitério do Prado do Repouso, no Porto, e parece que dele não chegamos a sair.
Etiquetas: cinema
Foi apresentado ao público, no passado dia 13 de Abril, o projecto 
Nas palavras das autoras "o projecto é inspirado nas voltas intermináveis de uma roda de hamster, que corre cada vez mais rápido para chegar a lado nenhum, este objecto é uma SÁTIRA à nossa passagem pela vida moderna. Baseado no binómio TRABALHO/DESCANSO é um reflexo da nossa condição humana; correr para o trabalho, trabalhar para descansar ou finalmente trabalhar uma vida tendo em vista o eterno descanso. Também o podemos ver como uma critica; trabalhar enquanto outros descansam. Esta obra pode ser usada por uma pessoa mas a sua utilização é optimizada quando usada por duas, um paralelo à nossa vida em sociedade.
Depois de exposto de 13 a 18 de Abril em Milão, nº 29 da na Via Vegevano, já no regresso a Portugal a peça irá ser exposta na LXFactory em Alcântara, durante o 4º Openday no dia 14 de Maio. 