sobre os fundamentos da paisagem
(SARAMAGO, José. CAIM. Editora Caminho, 5ª edição, Alfragide, 2009)
a paisagem em discurso
If your goal is to create a place (which we think it should be), a design will not be enough. To make an under-performing space into a vital “place,” physical elements must be introduced that would make people welcome and comfortable, such as seating and new landscaping, and also through “management” changes in the pedestrian circulation pattern and by developing more effective relationships between the surrounding retail and the activities going on in the public spaces. The goal is to create a place that has both a strong sense of community and a comfortable image, as well as a setting and activities and uses that collectively add up to something more than the sum of its often simple parts. This is easy to say, but difficult to accomplish.
Além do incentivo e do apoio para melhorar o espaço público, o PPS tem uma vasta lista de projectos existentes, de diferentes tipologias, assim como análises dos mesmos, do que resulta e do que não resulta, numa perspectiva do utilizador, e não apenas na óptica da espectacularidade do design.
Yes we can!
Quantos poderiam apostar que seria da cultura da guerra, do controle, da vigilância, do ódio, ou da própria guerra-fria que surgiria um dos mais ricos e extensos corredores verdes da Europa? Entre torres de vigia, vedações intransponíveis, arame farpado e minas, a natureza tratou de criar o que o homem já provou que, por sua vontade própria, dificilmente consegue.
Na fronteira entre as duas alemanhas, na anteriormente conhecida cortina de ferro, um corredor com cerca de 1400km de extensão e 3683ha de área, desenvolveu-se um dos mais ricos e extraordinários corredores ecológicos, que contêm cerca de 100 tipos de habitat e 5000 espécies presentes (600 das quais em risco de extinção, muitas das quais já se consideravam mesmo extintas). O corredor funciona como uma comprida linha de distribuição de fauna e flora ao longo da sua extensão, enriquecendo em biodiversidade os diversos locais por passa.
Este corredor ecológico, surgido em 1949, teve como principal origem o seu abandono e provável vazio legal após o fim da separação alemã, tendo sido parcialmente reconhecido como uma importante área de preservação a partir de 1990. Actualmente, o projecto European Greenbelt, tenta formalizar o seu estatuto proteccionista e alargar a sua área de protecção. A sua sobrevivência já se mostra difícil, pois começam a surgir os projectos de estradas e de interesses comerciais.
Tal como nos diz o manifesto da Terceira Paisagem, de Gilles Clement, se o homem não realizar qualquer tipo de acção, a paisagem, por si só, contêm mecanismos de evolução biológica que permitem transformar a inacção humana em algo de importante e interessante para a biodiversidade.
E foi exactamente o que aconteceu. Nesta pequena faixa, conhecida como um corredor da morte e com pouco mais de 30 a poucas centenas de metros de largura, repleta de minas, impedimentos físicos e muito medo, a pressão humana foi mínima durante décadas, não se tendo construído edifícios e estradas, não se tendo agricultado ou florestado. O resultado é uma espécie de versão animada e real do livro vermelho europeu.
A questão que se pode levantar deste exemplo, é até que ponto é que não conseguimos realmente coexistir com a biodiversidade. Podemos também perguntar-nos se não seria mesmo mais útil determinar verdadeiros corredores ecológicos, sem pressão humana, em vez de nos cansarmos com projectos “sustentáveis” e leis (e alterações à lei), que tentam minimizar o impacte humano, sem realmente o conseguir.
Outra questão que também se pode colocar é até que ponto a localização de um valor natural é absolutamente essencial para a biodiversidade existir. A separação entre as duas alemanhas poderá até coincidir com algumas determinantes biofísicas (rios, lagos, acidentes de relevo, etc.), mas devemos desconfiar da capacidade de planeamento ecológico de Estaline, Churchill e Truman, assim como das acções de restauro ambiental da Stasi e da polícia federal alemã. Parece-me que o factor essencial para a biodiversidade ter-se mantido ao ponto deste corredor ser considerado um santuário foi a inacção. A evolução biológica, com os seus mecanismos próprios, conseguiu por si só adaptar-se e expandir-se a este traçado político-militar, criando uma dinâmica que muitas reservas e parques provavelmente não possuem.
Que dizer, quando com toneladas de arame farpado e minas se consegue criar um dos melhores e maiores corredores verdes do mundo?