Falar de “Juventude em Marcha” de Pedro Costa sem mencionar arquitectura ou paisagem reduziria o filme a uma forma de anulação das personagens pela ausência de um contexto como extensão do seu ser.
No filme assistimos ao processo de realojamento das famílias do bairro das Fontaínhas num novo bairro social, novo lugar branco e asséptico. Aqui ficção e documentário sobrepõem-se. As personagens e respectivas vivências são reais, sintetizadas por um realizador que faz questão de lhes dar uma voz. Os olhos de Ventura, o mais velho habitante das Fontaínhas, filtram o presente e remetem-nos por vezes para o passado, num movimento espacio-temporal que esclarece o antes e depois do espaço habitado. As paredes brancas do interior dos novos apartamentos contrastam com as cores saturadas das construções do antigo bairro. O espaço exterior parece inóspito quando comparado com as ruas intricadas entre as habitações das Fontaínhas, prolongamentos para o exterior da casa e das vivências a si associadas.
Vanda recebe Ventura no seu quarto para, com a televisão ligada, lhe relatar o presente face a um passado que ainda lhe é próximo. Falam sobretudo de mudança, no fundo o que surge subjacente à questão da relocalização. Passado e presente, espaço e tempo fundem-se num todo, questionando esta problemática de uma forma incisiva. O espaço em que habitam ou o anterior que abandonaram expõe as personagens, as suas forças e os seus medos.
Numa sequência do filme, numa visita à Fundação Gulbenkian, a qual Ventura ajudara a erguer nos seus primeiros trabalhos na construção civil, a câmara foca-o sentado num dos cadeirões do museu da instituição. Sentimo-lo deslocado, mas talvez não tanto como no novo bairro no qual habita, sozinho no seu apartamento de cinco assoalhadas.