
Numa zona de relevo rigoroso, a presença de linhas de água dita o povoamento, condição essencial à prática da agricultura, modo de subsistência numa região em que os recursos são mínimos.
A aldeia de Ceiroquinho ocupa um vale integrado na extensa cadeia montanhosa da serra do Açor. Um pequeno núcleo de casas alcandoradas ao longo de uma encosta debruça-se sobre uma linha de água, essencial na sua génese e sobrevivência.
Chegámos num dia de calor, deambulando por um percurso tortuoso aparentemente sem um fim à vista. Em baixo, a aldeia, disposta no sopé da encosta, concentrado de casas em pedra, umas mais antigas, outras de construção recente, ligadas por percursos intricados ajustados às necessidades da povoação.

Imagens recentes da piscina da aldeia ditaram a visita. No local, a relação entre ambas não é clara. A piscina afasta-se da aldeia por meio de um percurso que contorna uma elevação oposta à implantação do casario. Enquanto subíamos, cruzámo-nos com homens de calções e vassouras às costas. Finalizavam o grande dia da limpeza da piscina, dia a partir do qual estava aberta a época balnear dos seus habitantes. Em baixo, os jovens aguardavam ao sol a subida das águas.

A piscina alimenta-se da água de um pequeno riacho que a contorna. A água, redireccionada por uma pequena comporta, enche a piscina para voltar ao seu leito normal após atingir o limite desejado e determinado pelos descarregadores de superfície. O desenho parece resultar de um gesto intuitivo, espontâneo, materializado numa plataforma principal que se ajusta ao relevo existente por meio de lances de escadas e plataformas secundárias que criam áreas de estadia ou de banhos para os mais pequenos.


Por outro lado, reflecte um sentido de comunidade pouco comum nos dias de hoje. É mantida pela povoação local e, na ausência de limites físicos, aberta aos transeuntes. Enche-se no pico do calor para devolver no Outono a água ao circuito normal do riacho.

Um caso notável de apropriação de um território e da sua dinâmica familiares aos habitantes da aldeia, longe de uma acção demasiado planeada, acto distante e por vezes contraditório com uma realidade ainda mais longínqua.
mais informação e fotografias aqui (ver secção Fotos).